
O produtor rural Raimund Duhatschek, 42 anos, afirma que sua ex-esposa, K.G.A.D., 39, participou da ação em que dois homens se passaram por policiais para retirar 36 animais e uma caminhonete de sua fazenda na Vicinal 03 do Roxinho, em Iracema. O caso ocorreu na manhã de domingo (7) e terminou com quatro pessoas detidas, incluindo a mulher. As informações foram relatadas à Folha pelo produtor e pela filha dele.
Segundo Raimund, a movimentação começou dias antes. A filha contou que vinha percebendo um carro seguindo seus deslocamentos pela cidade. Na quinta-feira anterior ao crime, dois homens, A.C.S.S., 51, e M.D.L., 44, estiveram na fazenda, dizendo ser policiais. Eles fizeram perguntas sobre o gado e, ao sair, orientaram o caseiro a não comentar nada com ninguém. O produtor enviou as imagens a conhecidos da segurança pública, que confirmaram que os homens não eram policiais.
Na noite de sábado, às 19h, as câmeras e a internet da fazenda foram desligadas. Na manhã seguinte, o caseiro encontrou o cadeado da porteira e a porta da casa arrombados. Ele também relatou ter visto a mulher na propriedade, reunindo o gado no curral, enquanto pessoas impediam sua entrada na casa.
Ao chegar à fazenda com a filha, o produtor encontrou caminhões boiadeiros carregados com os 36 animais, sendo 22 vacas, 11 bezerros, um touro e dois cavalos. Ele afirmou que A.C.S.S. se apresentou como policial civil, apontou uma arma e disse que cumpria uma ordem judicial que autorizava a apreensão do gado e da caminhonete da família. Nenhum documento válido foi exibido.

Conforme o Auto de Prisão em Flagrante, obtido pela reportagem, o grupo apresentou apenas uma decisão relacionada ao processo de separação do casal, usada como se fosse um mandado, sem a presença de oficial de Justiça.
A filha do casal conseguiu sair da propriedade e pedir ajuda a vizinhos, que acionaram a Polícia Militar. O grupo foi abordado no km 15 da Vicinal 12. Com os suspeitos, a PM encontrou o simulacro, um colete balístico, celulares, um notebook e R$ 7.100 em espécie. Os caminhões com os animais foram apreendidos logo depois. Na delegacia, K.G.A.D. já estava detida como “suposta autora/infratora”.
A versão da ex-mulher à Polícia Civil
No depoimento, K.G.A.D. afirmou ter sido casada com Raimund por 20 anos e disse que, desde a separação, enfrenta dificuldades financeiras, relatando que o ex-marido não paga pensão alimentícia há seis meses. Segundo ela, isso a deixou em “desespero”, pois, além de não ter renda, estaria pagando aluguel e sustentando o filho, desempregado.
A mulher afirmou ainda, que a fazenda onde ocorreu o crime foi adquirida durante o casamento e que uma decisão judicial determinou que ela teria direito a 14 bovinos, mas alegou que o ex-marido continuava “delapidando o patrimônio”, vendendo animais sem prestar contas. Ela disse que tomou conhecimento dessas vendas por anúncios em grupos de troca e venda.
Em sua versão, ela afirmou ter ido à fazenda em 3 de outubro, acompanhada do amigo M.D.L., para verificar os bens após sofrer violência doméstica. Nesse dia, segundo ela, M.D.L. apresentou ao caseiro uma decisão judicial do processo de separação, mas ela permaneceu no carro. Disse também que não conhecia os seguranças e que todo o deslocamento foi organizado por M.D.L., que teria solicitado apoio de mais dois homens para auxiliá-los.
Ainda segundo o depoimento dela, no domingo ela voltou à fazenda com M.D.L. e dois seguranças para “fazer o levantamento dos animais”. Ela declarou que, ao chegar, não encontrou ninguém na sede da propriedade e que decidiu colocar os animais nos caminhões. Ela afirmou ainda que, nesse momento, teria visto Raimund aproximar-se da porteira com a caminhonete, afirmando ter sido impedida de sair com o veículo. Na versão dela, não houve ameaça com arma e, segundo disse, ela apenas tentou retirar os animais que considerava seus.
Por fim, ela afirmou que não teve contato com o produtor ou com a filha durante a ação e disse desconhecer a versão de que a energia e as câmeras teriam sido desligadas.

Investigação segue em andamento
O produtor rural afirma que a versão da ex-esposa não corresponde ao que ocorreu. Segundo ele, as câmeras foram desligadas, o gado foi recolhido antes de sua chegada e a filha presenciou a arma apontada para ambos. Ele afirma que a ação foi planejada e que teme as consequências do conflito judicial.
A Polícia Civil continua apurando o caso para esclarecer o envolvimento de cada pessoa e confirmar ou descartar as versões apresentadas.
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