
Em 13 de junho de 2022, agentes da antiga Força Tarefa de Segurança Pública (FTSP), atual Ficco, prenderam Evelyn Lorrany Nogueira de Lima, conhecida como Porcelana, o então namorado Thiago Lima dos Santos, o TH da Zona Leste, e outras quatro pessoas por tráfico de drogas, associação para o tráfico e porte ilegal de arma de fogo. Inquérito da Polícia Federal (PF), que a Folha BV teve acesso, apontou o então casal como distribuidores de drogas, oriundas do Amazonas, em Roraima.

Porcelana e TH foram localizados em um carro alugado em frente de uma casa do bairro Canarinho, área nobre na zona Leste de Boa Vista, com uma pistola calibre .380 com numeração raspada e 15 munições do mesmo calibre, duas pistolas calibre nove milímetros (uma delas com carregador alongado que potencializa a capacidade da arma para efetuar 30 disparos), 42 munições do mesmo calibre, e R$ 1,5 mil – dinheiro em posse de TH.
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Três dias após a prisão em 2022, Porcelana conseguiu autorização para ficar em prisão domiciliar e após quase três meses, obteve alvará se soltura para responder ao processo em liberdade.
Em Roraima, Porcelana também é investigada pela Polícia Civil (PCRR) por ajudar na fuga de presos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc). TH, por sua vez, integrava a cúpula do Comando Vermelho (CV) no Amazonas até ser morto com 38 tiros, em julho passado, em Manaus.
Evelyn Lorrany ganhou notoriedade nacional após usar o Instagram para lamentar a morte de Francisco Myller Moreira da Cunha, conhecido como Gringo, durante a megaoperação contra o CV que resultou em mais de 100 mortes no Rio de Janeiro.
Como apareceram no esquema
Na operação para prendê-los em 2022, em Boa Vista, eles não eram os alvos principais. O inquérito conduzido pelo delegado Caio Luchini mostra que a FTSF começou a monitorar uma casa do bairro Mecejana, na zona Oeste, após receber denúncia de que o imóvel era usado para venda e distribuição de drogas.
A equipe avistou a chegada do suspeito F.S.G. à casa e ele sendo recebido por C.D.M.A. Minutos depois, os policiais decidiram abordar F.S.G., que tentou se livrar de uma bolsa com 200 gramas de pasta base (que adquiriu de C.D.M.A por R$ 4,5 mil), ao arremessá-la pela janela do carro.
Depois, os agentes adentraram a casa e flagraram o responsável pelo imóvel contabilizando o dinheiro que acabara de receber de F.S.G. Além disso, a equipe encontrou no local 430 gramas de cocaína e uma trouxinha de skunk (a supermaconha) em quantidade aproximada.
Assim, C.D.M.A. disse que trabalhava para Thiago Lima dos Santos e um rapaz identificado apenas como “Júnior, o qual iria à casa para buscar o dinheiro.
Entretanto, de acordo com o inquérito, a arrecadação dos valores ficou a cargo de duas mulheres, T.S.P. e S.O.A., que foram ao imóvel em um dos carros Jeep Renegade alugados por “Júnior”.
A FTSP esperou a chegada da dupla à residência para abordá-la. T.S.P. disse que a casa de “Júnior” ficava no bairro Canarinho e, a partir desta informação, os agentes foram para o endereço e passaram a monitorá-lo.
Os policiais abordaram um outro Jeep Renegade branco que se aproximou do imóvel situado no bairro nobre e identificaram TH como motorista e Porcelana como passageira.
Na ocasião, a antiga FTSP encontrou debaixo do banco do passageiro uma pistola calibre .380 com numeração raspada. Com Thiago, os agentes acharam R$ 1,5 mil, que o suspeito inicialmente não soube explicar a origem.
Dentro da casa, a força-tarefa encontrou um quilo de pasta base e três munições calibre nove milímetros, além de pertences pessoas de Porcelana, TH e das duas suspeitas acusadas de contabilizar o dinheiro dos entorpecentes, reforçando que eles frequentavam o local.
Em ato contínuo, a FTSP retornou à residência do Mecejana e encontrou balança de precisão e quatro porções de skunk que somavam 20 gramas.
Dois dias depois, após nova denúncia, os policiais encontraram, no imóvel, duas pistolas calibre nove milímetros (uma delas com carregador alongado que potencializa a capacidade da arma para efetuar 30 disparos) e 42 munições de mesmo calibre.
“Malgrado os conduzidos tenham negado qualquer tipo de envolvimento com os fatos, suas alegações restaram completamente isoladas nos autos, não sendo dignas de credibilidade, mormente se levarmos em consideração a quantidade expressiva de valores e drogas apreendidas, inclusive, de variados tipos (Skunk, cocaína em pó e em forma de base), sem se olvidar das balanças de precisão, apetrecho comumente utilizado por traficantes para ‘dólar’ a droga”, pontuou Luchini no inquérito.
O que casal disse sobre as acusações
Em depoimento à PF, Evelyn Lorrany negou envolvimento com o tráfico e disse que viajou a Boa Vista apenas para passear. Contou que chegou à capital roraimense cerca de 20 dias antes da prisão, acompanhada do namorado, Thiago, e que o carro em que estavam tinha sido alugado em nome de Júnior, amigo de Thiago, em Manaus. Afirmou que não sabia da existência da arma de fogo no veículo e que apenas foi à casa de Júnior naquele dia para fazer um procedimento de depilação, marcado por duas mulheres que também foram presas na operação.
Evelyn relatou ser estudante de supletivo, mãe de duas filhas e sustentada pela mãe. Disse que não conhecia as outras envolvidas e negou saber da presença de drogas na casa de Júnior, localizada no bairro Canarinho. Segundo ela, o namorado havia pago as diárias do carro e não havia recebido nenhum pedido para transportar mercadorias. A jovem reforçou que não tinha antecedentes criminais e alegou desconhecer qualquer ligação de Thiago ou de Júnior com o tráfico de drogas.
Thiago Lima dos Santos, por sua vez, negou qualquer envolvimento com o tráfico de drogas ou com o crime organizado. Disse que veio a Boa Vista para abrir uma loja de roupas com a namorada, Evelyn Lorrany, e que o veículo Jeep Renegade onde foram encontrados uma arma e munições tinha sido alugado por um amigo identificado como Júnior, que, segundo ele, é dono de pontos comerciais em Manaus. Thiago afirmou que a arma encontrada no carro pertencia a Júnior e que desconhecia sua presença no veículo, alegando que o amigo deve tê-la esquecido ao sair para lanchar.
O suspeito também declarou que já havia sido preso por porte de arma em 2019, mas absolvido, e que sua renda mensal vinha de três pontos de venda de açaí em Manaus, com ganhos de até R$ 9 mil por mês. Contou ainda que ficou cerca de um mês em Boa Vista, onde chegou de carro com Evelyn, e que pretendia retornar a Manaus no mesmo dia da prisão. Durante o interrogatório, Thiago insistiu que não sabia da existência de drogas na casa do bairro Canarinho e que o dinheiro encontrado com ele seria de uso pessoal, negando ligação com a comercialização de entorpecentes.