
A Delegacia de Pacaraima, localizada na fronteira entre Brasil e Venezuela, opera com déficit de agentes e enfrenta risco de colapso no atendimento à população. O alerta consta em um memorando da última quarta-feira (29), ao qual a Folha teve acesso, enviado ao Departamento de Polícia Judiciária do Interior (DPJI) solicitando a designação emergencial de policiais para suprir a demanda.
Nos últimos quatro meses, a delegacia perdeu quatro agentes devido a aposentadoria, afastamentos médicos e transferências. Além disso, outros quatro servidores sairão de férias em fevereiro, um agente irá se aposentar e dois policiais lotados não retornaram ao serviço na unidade em 2025, devido a prorrogação da missão na Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO).
O documento ainda aponta que a sobrecarga se agrava com a existência de 110 ordens de missão pendentes, sendo 60 em Pacaraima, 26 em Amajari, 22 em Uiramutã e duas em Boa Vista.
Conforme o pedido de designação de agentes, a delegacia funciona 24 horas e precisa de policiais tanto para investigações quanto para cumprimento de ordens judiciais, transporte de presos e atendimento ao público. O memorando alerta que a falta de pessoal pode gerar paralisação de serviços e atraso nas investigações criminais.
“Antes que a Delegacia de Pacaraima entre em colapso por falta de efetivo para cumprir a demanda solicitada, SOLICITO COM URGÊNCIA, a designação de no mínimo DOIS Agentes de Polícia do DPJI ou de outra unidade, para que sejam cedidos temporariamente à Unidade Policial de Pacaraima para apoio nos cumprimentos de Ordens de Missão e realização de Plantão Policial, até a nomeação efetiva de outros agentes de polícia”, pede o delegado no documento.
Candidatos em cadastro reserva pedem convocação
A escassez de efetivo não se limita à Delegacia de Pacaraima, mas é um reflexo da situação do órgão público como um todo. Atualmente, a corporação conta com 972 policiais, dos quais 100 já estão aptos a se aposentarem. De acordo com os candidatos aprovados no concurso de 2022 para o cadastro reserva da Polícia Civil, o quadro de efetivo, que remonta ao ano de 2002, é considerado obsoleto, considerando o crescimento populacional do estado.
“Hoje, a Polícia Civil não tem um efetivo sólido para lidar com todas as demandas do Estado. Com esses 972 policiais civis e 100 em abono permanência para se aposentar a qualquer momento, já existe um déficit de mil vagas ideais”, justificou um dos candidatos, que não quis se identificar.
Além disso, apontam que o concurso acrescentou aos quadros da corporação apenas 205 novos policiais, distribuídos entre nove cargos. Por isso, em um movimento que caminha para um ano, eles pedem a convocação. “Somos 120 candidatos que já estamos aptos em todas as fases, e há previsão orçamentária para a convocação. No entanto, falta o governador [Antonio Denarium] em dar o ‘sim’ e assinar a nossa convocação”, completou.
Outro lado
A reportagem procurou o Governo de Roraima sobre o déficit de efetivo em Pacaraima e a possibilidade de nova convocação. Em reposta, a Polícia Civil de Roraima informou que a solicitação de agentes será analisada, mas que houve uma “alocação de servidores em números ao necessário” na unidade. Não houve menção à chamada de novos agentes.
A Polícia Civil de Roraima informa que será realizada uma análise do documento recebido, com possibilidade de eventual remanejamento de pessoal.
Ressalta que, após a realização do último concurso público da instituição, houve a alocação de servidores em número superior ao necessário.
A PCRR avalia ainda a possibilidade de implementar uma força-tarefa na unidade com o objetivo de regularizar todas as pendências.