Há dias, em reunião com amigos, em um final de tarde quente e alaranjado, típico da Ilha do Amor, na companhia de pessoas queridas, atualizamos a conversa, colocamos o papo em dia.
Todos ávidos para falar, tínhamos ótimas histórias para contar. Alguns havia tempos que não se viam, pois, por trabalho ou separação foram morar longe.
Marcamos e desmarcamos o encontro diversas vezes por causa dos afazeres prementes. Andamos sempre assoberbados, corridos. Finalmente o encontro saiu, e refastelados em torno de uma mesa de bar de praia, regada a muitas geladas, a conversa fluiu sobre os mais diferentes assuntos.
O tempo, esse senhor indomável, que segue seu curso sem prestar contas a ninguém se encarrega de levar tudo para a frente; a memória, que teima em nos trazer de volta, nos reconectamos com o passado. Coisas e pessoas que fazem parte de cada de nós foram revisitados.
Tempos corridos. Na vã tentativa de não ficar para trás, muita gente corre em direção a lugar nenhum. A pressa está sendo romantizada como sinônimo de produtividade, mas é só mais um disfarce para a desconexão.
Quando tudo precisa ser feito de forma rápido, nada é feito com atenção.
Comer correndo, conversar olhando o celular, ouvir sem escutar, viver sem estar no aqui e agora. A correria, quase sempre, promete sucesso, mas só entrega ansiedade. O agora virou um obstáculo a ser superado, e saber que temos que fazer algumas com calma é o grande desafio.
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Ao chegar ao bar, fizemos um pacto: todos deveriam desligar os aparelhos celulares, e focar apenas no momento presente e nas conversas.
Lembramos de amigos queridos que partiram antes de nós, deixando saudades e boas memórias. Falamos de amores que nos marcaram; coisa de meio século passado. Recordamos como era namorar naquela época, tempo em que ao observar roupas estendidas no varal, como calçolas, sutiãs e camisolas, imaginávamos os enchimentos, pensando nos belos corpos femininos tão desejados.
Alguém relembrou as serenatas para conquistar as moças e irritar os pais.
Um amigo, solteiro recentemente, falou de como mudou a conquista. Hoje, as pretendentes se apresentam pelas redes sociais. Com um catálogo à sua disposição, as opções mostram o perfil: fotografias, altura, número de filhos, se bebe e fuma, pratica esporte, além dos gostos e outras características. Segundo ele, já conheceu doze moças. Algumas bem jovens, outras coroas, todas querendo relacionamento sério, quando ele está de volta à pista e, quer tão conhecer novas mulheres. Está descobrindo as delícias dos novos tempos. Agora ele apenas “ficante”.
Outro falou das dificuldades em se adaptar aos tempos atuais. Em um mundo cada vez mais tecnológico, tudo agora é por aplicativo. Até a ida ao caixa do banco para fazer saques e pagar contas mudou, tudo é pago por pix.
Essa turma é da época que só existia duas marcas de cerveja: Bahama e Antártica. Quem gostava de uma era fiel à marca, e não se brigava por isso. Hoje com a multiplicidade de marcas, fica até difícil escolher cerveja. Segundo o filósofo francês Jean Paul Sarte, é justamente por sermos conscientes de estarmos presos à liberdade que desenvolvemos a responsabilidade. Assim, a partir do existencialismo de Sartre, podemos afirmar que vivemos cotidiana e constantemente em crises existenciais, algumas destas crises pelas opções de ofertas, que tem impacto maior em nossa existência.
Após muita conversa, muitos sorrisos, momentos de relaxar, é hora de pedir a conta e marcar outro encontro para quando todos tiverem um tempo para flanar e filosofar sobre a vida.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”
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