OPINIÃO

       “Todo tempo que temos”

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Na semana passada, zapiando pelas plataformas de streaming, deparei-me com filme “Todo tempo que temos”, do diretor irlandês John Crowley, o mesmo de Brooklin.

Lançado em 2024, conta a história do encontro surpresa de Almut (Florence Pugh), uma chefe de cozinha espirituosa e indomável, com Tobias (Andrew Garfield), um recém-divorciado que tenta colocar sua vida em ordem. Os dois logo provam que pessoas completamente opostas podem encontrar, em suas diferenças, um amor capaz de mudar suas vidas para sempre. No entanto, o que parecia um encontro perfeito, que se transformou em um lar e logo em uma família, é abalado por uma verdade escondida por anos, colocando em risco o amor e todas as conquistas do casal. À medida que a trama se desenrola, Almut e Tobias enfrentam desafios emocionais e precisam decidir se seu vínculo é forte o suficiente para superar as adversidades. Com uma narrativa profunda e cativante, o filme explora temas como redenção, perdão e a complexidade dos relacionamentos humanos.

O longa narra a história do casal que precisa lidar com o câncer avançado da mulher, que vai encutar a história de amor de ambos.

“Todo Tempo que Temos” é um filme que já foi feito muitas vezes de maneiras diferentes ao longo das décadas: Love Story, de 1970, dirigido Arthur Hiller, e estrelado por Ali MacGraw e Ryan O’Neal; Diário de uma Paixão, de 2004, direção de  Nick Cassavetes, estrelado por: Ryan Gosling, Raquel McAdams e James Garner.

E tantos outros. Trata-se da boa e velha história de amor pontuada de tragédia que existe para arrancar lágrimas e para passar mensagens otimistas. E, como uma fórmula básica usada repetidas vezes e, não é diferente em “Todo tempo que temos”. A história narra diversos momentos da vida dos dois, seja o começo do relacionamento, o câncer no útero de Almut, sua gravidez e sua profissão como chefe de cozinha em um restaurante próprio. No entanto, a narrativa funciona muito bem no longa, não só como um artificio para manter o espectador grudado na tela, como ela é tecnicamente muito bem conduzida de forma cuidadosa pelo diretor Crowley e a montagem precisa de Justine Wright que, sem usar transições, estabelece marcadamente cada novo momento temporal sem exigir esforço algum do espectador para a compreensão do que está ocorrendo para além do primeiro momento que pode criar estranhamento circunstancial.

“A vida oscila como um pêndulo, para lá e para cá, entre a dor e o tédio”, escreveu Arthur Schopenhauer. Na vida nada é estável e/ou lógico.

O ponto alto da história é quando a protagonista se depara com a finitude se aproximar, e quer deixar um legado para a filha. Como fazer para se eternizar na memória da filha pequena? Para além do amor dos protagonistas, Almunt (Pugh) precisa deixar lembranças para a filha, de alguma forma. Ela sabe que a menina é muito pequena e poderá esquecer detalhes da mãe no futuro, quando ela já tiver partido. Seu foco então é se fazer inesquecível, presente. Ela quer que a filha olhe sempre para trás e lembre do quanto a mãe foi incrível, mesmo com uma vida breve.

Recentemente vi uma matéria de TV, em que uma jovem mãe, com uma doença incurável e, vendo seu fim se aproximar, gravou diversos vídeos, escreveu cartas para os dois filhos pequenos, lerem quando forem maiores. E, assim, saberem quem foi aquela mulher que lhes gerou a vida.

“Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros.

Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo.

É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.” Escreveu Rubem Alves em “Poemas e Orações”.

A grande diferença entre dinheiro e tempo, é que sabemos quanto dinheiro temos, mas nunca saberemos o tempo que nos resta.

Por mais que vivamos, nunca saberemos de onde viemos, quando vamos, e para onde vamos? São mistérios da vida.

“Todo o tempo que temos” é um firme que desperta muito em nós.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”

Instagram: @luiz.thadeu

Facebook: Luiz Thadeu Silva

E-mail: [email protected]

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.