Por Leandro Almeida
Setembro é o mês em que mais se fala sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. É um tempo de lembrar que a vida precisa ser prioridade. Mas quando pensamos em saúde mental, muitas vezes não damos a devida atenção a uma categoria que vive no limite: o Policial Civil.
A sociedade enxerga “o distintivo” nas ruas, mas raramente imagina o que acontece quando ele atravessa a porta de casa. O corpo volta para o lar, mas a mente, muitas vezes, permanece em serviço. Esse “transbordamento” do trabalho atinge não só o policial, mas também sua família.
Plantões, horas extras e convocações de última hora bagunçam rotinas e corroem momentos de convívio. A hipervigilância necessária no trabalho se transforma em impaciência e intolerância no lar. O silêncio emocional, aprendido para suportar cenas de violência, vira distanciamento de cônjuges e filhos. Até mesmo a família passa a viver sob ansiedade constante: “E se algo acontecer?”.
Não é exagero dizer que o “distintivo”, quando não bem cuidado, adoece junto com a casa. Parceiros sobrecarregados, filhos tensos, amigos distantes: o estresse de um se espalha para todos. É nesse ponto que a prevenção deixa de ser individual e passa a ser coletiva.
Os sinais estão aí: insônia persistente, irritabilidade, distanciamento, abuso de álcool, conflitos circulares. Reconhecê-los não é fraqueza, é responsabilidade. Pedir ajuda não é desistir, é um ato de coragem.
É preciso quebrar o silêncio. O policial deve ser encorajado a cuidar de si; a família, apoiada em sua carga invisível; e as instituições, responsabilizadas por oferecer suporte psicológico, respeitar folgas e criar ambientes de acolhimento. Cuidar da saúde mental de quem protege é também fortalecer a segurança de todos nós.
Setembro é um lembrete, mas a mudança precisa continuar no dia seguinte. O que está em jogo não é apenas o equilíbrio de profissionais que arriscam a vida diariamente, mas a saúde das famílias que os sustentam e, por consequência, a qualidade de vida de toda a sociedade.
O Policial Civil merece cuidados… E sua família, também.
A vida é — e deve ser — prioridade. Sempre.