Manhã fria de 13 de novembro. 7 graus, marca o termômetro. Fiz check out no hotel em Tashkent, após três dia visitando a fascinante e surpreendente capital do Uzbequistão. Pouco tempo, pretendo voltar ao país para conhecer: Tasquente, Samarcanda, Andjan, e seus atrativos turísticos.

O rapaz da recepção pede um carro por aplicativo, informa o valor a ser pago; me dirijo para o aeroporto Reklama.  Chego com antecedência, faço chec in, alfândega, imigração e sou conduzido para o portão de embarque. Quando deixei o hotel, observei que a carga do celular estava baixa. Como todas as informações da trip que estou fazendo pela Europa e Ásia, estão no celular, me preocupei. Deixei a mochila na cadeira e saí procurando uma tomada para carregar o aparelho. O saguão próximo ao portão de embarque lotado, com voos que sairiam em seguida para Jidah, Arábia Saudita e Moscou, Rússia. Observei em todas as direções e não  via uma tomada. Dei umas quatro voltas pelo saguão e nada. Vi que um senhor, com vestimentas árabes, me observava. E, eu a andar com olhos de varredura a procura da tomada. Na quarta vez que passei próximo onde ele estava sentado, levantou-se e me deu uma nota de Som quirguiz, o dinheiro do Uzbequistão. Peguei a cédula e guardei no bolso, agradecido. A cédula de menor valor em circulação no país. Acredito que ele tenha pensado em me ver passado tantas vezes, observando atentamente para os bancos, com muletas, estava a procura de uns trocados. Não me fiz de rogado, nem me senti ofendido, e nem teria porquê. A cédula vai aumentar minha coleção de dinheiro dos países visitados.

Acredito que ele tenha pensado: hoje com esta pequena esmola ajudei um necessitado.

Meus filhos, Rodrigo e Frederico fizeram intercâmbio em Dublin, Irlanda. Em uma visita ao país, Frederico e eu pegamos o primeiro ônibus que nos levaria ao aeroporto, onde tomaríamos um voo para algumas cidades europeias e para o Marrocos, na África. A passagem custava 5 euros. Por regra, afixada em cartaz, logo na entrada do ônibus, o valor máximo para se dar ao motorista era 20 euros. Desconhecendo a lei, só tinha na carteira cédulas de 50 euros. O motorista pediu para descermos do ônibus. Nevava bastante, um frio de rachar.

-E, agora, Frederico, o que faremos?

-Pai, só indo de táxi.

-Quanto custa o táxi para o aeroporto?

-Em torno de 50 dólares.

Subi no ônibus, contra a vontade de Frederico, e com inglês macarrônico, expliquei da necessidade de irmos naquele ônibus para o aeroporto.

O motorista, quebrando a regra, fez sinal para Frederico subir, e explicou que naquele dia era comemorado o Dia de Patrick, padroeiro da Irlanda, e por isso ele não cobraria nossas passagens. Mas que nós fizéssemos a doação daquele valor para alguém necessitado. Visitamos as cidades europeias e atravessamos o Atlântico para Marrocos. Em uma viagem de Casa Blanca para Marrakech; trem lotado, sentou-se no nosso vagão uma família de pastores marroquinos, que iriam para as Bodas de casamento de uma filha. Frederico e eu conversando em português, chamou atenção do patriarca. Ele falou com um rapaz que traduziu para o inglês que eles estavam gostando de ouvir nós falarmos. Eu observei aquelas pessoas, com expressões tão comoventes, e perguntei para o rapaz se eu poderia fazer uma pequena doação em dinheiro.

-Não, isso seria uma ofensa aqui no Marrocos, respondeu ele.

Mas meu coração pedia para fazer aquela doação que o motorista do ônibus em Dublin nos pediu.  Pequei uma quantia maior do que o valor das passagens, e com a mão direita fechada repassei para o chefe da família. Ele abriu devagar, guardou no bolso, e pediu para o rapaz nos agradecer. Por mais de uma vez, me abraçou em gratidão pelo pequeno gesto.

No aeroporto de Tashkent, aquele senhor, também fez sua boa ação, na intenção de me ajudar. E ajudou, aumentando minha coleção de cédulas. Pequenos gestos nunca são demais. O que vale é a intenção.  Sem saber, vi nas redes sociais que 13 de novembro é o Dia da gentileza.

Não custa nada ser gentil e generoso com alguém. A vida agradece.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.

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