OPINIÃO

“Não existe pecado do lado debaixo do equador”

“Não existe pecado do lado debaixo do equador” “Não existe pecado do lado debaixo do equador” “Não existe pecado do lado debaixo do equador” “Não existe pecado do lado debaixo do equador”

Um país nascido da fusão de índios, africanos e europeus só podia dar nisso: um caldeirão de ritmos, sons, alegria, sensualidade e festa. É carnaval, tempo de celebração da liberdade e expressão, onde as pessoas se sentem mais à vontade para explorar sua sexualidade e celebrar a diversidade. Período em que os foliões se permitem vivenciar novas experiências, aproveitando a atmosfera festiva para se libertar das inibições do cotidiano. Tempo de esbórnia. “Abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia, entre nessa festa”, canta Lulu Santos em Dancin’ days.

O brasileiro que já é gaito e irreverente por natureza, no período momesco vai à loucura, libera total. Para os que gostam de brincar, se esbaldar, o carnaval é uma catarse. Alegria total. Somos ufanistas, o carnaval brasileiro é a maior festa popular do mundo. Se é verdade não sei, mas o que não falta é gente a cair na folia por ruas, vilas, avenidas desse imenso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Para os que gostam da paz, sossego, a bagunça do carnaval é uma sufoco, especialmente para os que não podem escafeder-se e refugiar-se bem longe.

O Carnaval não é uma invenção brasileira; sua origem remonta à Antiguidade.   Segundo a história, na Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que conhecemos como Carnaval.

O Carnaval é uma tradicional festa popular realizada em diferentes locais do mundo, sendo a mais celebrada no Brasil. Apesar do forte secularismo presente no Carnaval, a festa é tradicionalmente ligada ao catolicismo, vez que sua celebração antecede a Quaresma. O amigo Francisco Brandão, me liga do Porto, para dizer que o “carnaval em Portugal é um horror: homens de terno e gravata, mulheres cobertas. No Brasil é maravilhoso, todos de tanga”. Francisco, que morou no Rio de Janeiro, conhece um pouco dos nossos costumes e sente saudade da folia.

A palavra Carnaval é originária do latim, ‘carnis levale’, cujo significado é “retirar a carne”. Esse sentido está relacionado ao jejum que deve ser realizado durante a Quaresma e também ao controle dos prazeres mundanos.

A associação entre o carnaval e as orgias está relacionado com as festas greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos). Seriam eles dedicados ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), marcados pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.

O carnaval não é terapia, mais é terapêutico. Uns expulsam seus capetas, outros o incorporam.

Donald Trump, o doidivana laranja, está bagunçando o já bagunçado mundo. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia completou três anos; Israel e Hamas continuam se matando. Papa Francisco, moribundo, briga pela vida em um quarto do hospital Gemelli, em Roma. Nossos foliões não estão preocupados com nada disso. É carnaval, onde a realidade cede lugar à fantasia, embalada pela orgia. A ordem por aqui é se esbaldar ao máximo, deixar nossas mazelas de lado e se divertir. Acredito que se o Papa bater as botas durante o período momesco, algum gaito fará um marchinha: “O papa Francisco morreu/que Deus o tenha/Melhor ele do que eu”, e tome cerveja e gandaia. A irreverência é nossa marca registrada.

E, como diz a bela canção de Chico Buarque de Holanda: “Se a guerra for declarada, A rapaziada ganha na moral. Se aliste, meu camarada, a gente vai salvar nosso carnaval. Não existe pecado do lado de baixo do equador, vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor. Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho, um riacho de amor. Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo, que eu sou professor. Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar: Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá. Vê se me usa, me abusa, lambuza, que a tua cafuza….”

“Eu quero é botar meu bloco na rua, brincar, botar pra gemer.
Eu quero é botar meu bloco na rua, Gingar, pra dar e vender…….”, Sérgio Sampaio.

Viva a alegria. Viva a esbórnia. Feliz carnaval para todos.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.

Instagram: @Luiz.Thadeu

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.