OPINIÃO

Na cadeia alimentar moderna, viramos predadores de nós mesmos

Na cadeia alimentar moderna, viramos predadores de nós mesmos Na cadeia alimentar moderna, viramos predadores de nós mesmos Na cadeia alimentar moderna, viramos predadores de nós mesmos Na cadeia alimentar moderna, viramos predadores de nós mesmos

*João Carlos Orquiza

Durante grande parte de sua história, o ser humano viveu como qualquer outra espécie na natureza, enfrentando ameaças diretas à sua sobrevivência – predadores como leões, tigres e hienas moldaram a evolução de mecanismos cerebrais voltados à defesa e de luta ou fuga diante do perigo.

No entanto, com a Revolução Agrícola e o crescimento das civilizações, os desafios mudaram. O homem deixou de temer presas naturais para lidar com leis, normas e sistemas econômicos.

Esses novos critérios de sobrevivência substituem a luta contra predadores por uma batalha constante contra a exclusão social e a insegurança financeira. O medo de ser devorado deu lugar ao medo da falência, do desemprego e do fracasso.

Moldamos uma sociedade que promove dívidas impagáveis, exigências de produtividade inatingíveis, precarização do trabalho e a redução do valor humano à capacidade de gerar lucro. Assim, o Homo sapiens eliminou seus predadores naturais apenas para se tornar caçador de si mesmo.

A busca incessante por eficiência nos transformou em peça de uma engrenagem que jamais pode parar. Sob o capitalismo, qualquer momento de descanso se torna um risco, e a exaustão é naturalizada como parte do caminho para o sucesso. Quem nunca se viu obrigado a participar dessa cultura de hiperprodutividade apenas para garantir o mínimo de segurança financeira?

A predação não desapareceu, apenas mudou de forma. O novo predador não tem presas afiadas ou garras cortantes, mas se manifesta na forma de uma nova cadeia alimentar, baseada na dominação financeira e na concentração de poder.

Entretanto, essa lógica não é inevitável. Se desacelerarmos e questionarmos as estruturas que nos governam, veremos que é possível reformular a economia para que sirva às pessoas, e não o contrário.

Isso exige a criação de um sistema mais equilibrado, que respeite os limites humanos e naturais, reduzindo a dependência do crescimento ilimitado como única medida de progresso.

A verdadeira evolução da humanidade não está na perpetuação da luta, mas na construção de um mundo onde a dignidade humana valha mais do que a produtividade.

Afinal, qual o sentido de dominarmos o planeta se, no processo, nos tornarmos escravos de nossas próprias criações?

*João Carlos Orquiza – pesquisador teórico-conceitual e autor de O Preço da Vida: seu trabalho, sua energia – o verdadeiro motor da economia mundial

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.