Walber Aguiar*

A amizade é um amor que nunca morre.

                                                                                                        Mário Quintana

Era tarde da noite. Hora das reflexões, do sono, da oração silenciosa. Momento da comunhão, da solidão, da brincadeira que ficou na lembrança e na poeira do subconsciente. Tempo de levantar, encher o peito de alegria e saltar na direção de Deus

Não do Deus carrancudo e ortodoxo, circunspecto e com cara de são Benedito. Mas de um Deus do cotidiano, que ouve o lamento e a gargalhada, que se importa com a lágrima e com a pacificação da alma.

Seu nome, Samuel, sua vocação a vontade de viver.  Coisa de amizade, de querer que esteja perto, com o pastel quente e a coca gelada. Um profeta do riso, da inocência, do desejo de servir.

Meu coração de poeta atravessou as paredes do quarto e foi encontrá-lo no sussurro das canções do Maranata, Tempo em que as estrelas serviam de cobertor ao frio da cruviana e do  igarapé que enchia o peito de grandeza e de conhecimento. Tempo das piadas do velho Eugênio, da alegria de Arão, o “anjo das pernas tortas”. Samuel continua sendo uma prova de que pode haver amizade na fé, o olho no olho, o pastelzinho quente das cinco da tarde.

Depois de atravessar o concreto armado da distância e do tempo, meu coração aquietou-se no Hermon, no monte da transfiguração. Ali, na geografia do afeto e da proximidade, tendas foram armadas. Comemos peixe e pastel no silêncio do sobrenatural, enquanto os dias passavam apressados e cheios de mesmice.

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Encurralado e surpreso pela alegria, À semelhança de C.S. Lewis, Samuel entendeu que precisava se render. Contagiado pela “sarça” , pelo gozo da misteriosa presença divina, tratou de espalhar essa síndrome do salmo 117.

Era tarde da noite. O galo cantava. Lembrei de Pedro e da fobia das labaredas. Nadei sozinho no Maranata da fé, do amor e da amizade. Chorei a lembrança, sorri de mim mesmo, sonhei que a comunhão continuava naquele Hermon macuxi. Samuel mergulhou no poção das cobras; quanto a mim, dormi, acordei, matei a saudade, voltei a viver…

*Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da  Academia Roraimense de Letras

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