OPINIÃO

Memórias de um carpinteiro

Walber Aguiar*

Jamais alguém falou como este homem

João 7:46

Ele veio na plenitude dos tempos. Os romanos dominavam militarmente, os gregos intelectualmente e os judeus eram os senhores da religião. Ele, mesmo inserido nesse contexto histórico, não quis provar nenhuma espécie de domínio sobre quem quer que fosse. Ainda assim, em toda a sua simplicidade, foi maior que todos eles.

O ídolo com pés de barro, Roma, acabou ruindo diante do desmonte moral, ético e econômico, refletindo diretamente na manutenção dos exércitos e na infiltração de outros povos em suas fileiras. Fora esse problema os cristãos não aceitavam o culto ao imperador. Preferiam esconder-se nas catacumbas e reverenciar a figura do carpinteiro de Nazaré. Isso apenas comprova que “toda força bruta representa nada mais que um sintoma de fraqueza”.

Os gregos queriam o carpinteiro, mas ele não foi. Ora, diante da dimensão filosófica, ele estava pra além do pensamento racionalista e empirista, pois a filosofia, em toda a sua profundidade não foi capaz de discernir completamente o moço de Nazaré. Por isso a investigação filosófica não consegue preencher a vaziez do coração humano em sua busca pelo transcendente.

Também nos dias de Jesus, os fariseus vestiam uma capa religiosa, discutiam tradições irrelevantes e desprezavam o filho de José, coando o mosquito e engolindo o camelo. Se para os religiosos de ontem e de hoje há uma “vida espiritual”, para Jesus a espiritualidade é a vida.

Nessa perspectiva, ele ensina que a felicidade é possível. Por isso ele não é o herói que libertou os judeus da opressão romana nem foi o gênio filosófico dos gregos. Também não é o Cristo engessado da tradição religiosa.

Sem dúvida, ele é deliciosamente misterioso. É muito, muito mais que um simples carpinteiro…

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia, membro da Academia Roraimense de Letras, Mestre em Letras e membro da Academia de Letras, Arte e Cultura da Amazônia.

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