OPINIÃO

Juventude ceifada: o Brasil que mata seus futuros

Ronildo Rodrigues dos Santos

Cientista Social

O Brasil enfrenta uma tragédia silenciosa e persistente: a morte diária de seus jovens. Segundo o Atlas da Violência 2024, em 2022, 62 jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados por dia, totalizando 22.864 vidas interrompidas precocemente. Essas mortes representam 49,2% dos homicídios no país naquele ano, evidenciando uma crise que atinge em cheio a juventude brasileira.

Embora tenha havido uma redução de 33,5% na violência letal contra jovens entre 2017 e 2022, os números permanecem alarmantes. A cada 100 jovens que morreram no Brasil em 2022, 34 foram vítimas de homicídio, sendo a maioria por armas de fogo. Entre 2012 e 2022, 321.466 jovens foram assassinados, resultando em uma perda de 15,2 milhões de anos potenciais de vida.

O perfil das vítimas é marcado por desigualdades sociais e raciais: homens negros, moradores de periferias urbanas, são os mais afetados. Em 2022, 76,5% das vítimas de homicídio eram negras, com uma taxa de 29,7 homicídios por 100 mil habitantes — quase três vezes maior que a de não negros. Como alerta o Centro de Formação, Assessoria e Pesquisa em Juventude – CAJUEIRO “o corpo negro da juventude é alvo de uma política de controle baseada no medo e no extermínio, não no cuidado”.

Geograficamente, os estados do Amapá, Bahia, Amazonas, Ceará e Alagoas apresentaram as maiores taxas de homicídios entre jovens. Essas regiões, historicamente negligenciadas em investimentos sociais, carecem de políticas públicas eficazes que promovam inclusão e proteção para a juventude.

O impacto dessas mortes vai além da perda humana: representa um prejuízo econômico estimado em R$ 150 bilhões por ano, equivalente a 1,5% do PIB brasileiro. Cada jovem assassinado é uma oportunidade de desenvolvimento, inovação e progresso que o país perde. Mais do que números, são sonhos interrompidos. Como lembra o CAJUEIRO, “quando um jovem morre, morre também um projeto de comunidade”.

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A ausência de políticas públicas robustas em áreas como educação, cultura, esporte e integração social contribui para esse cenário. A falta de escolas de qualidade, espaços culturais acessíveis e programas de inclusão social deixa muitos jovens vulneráveis à violência e ao crime organizado. O CAJUEIRO insiste que “a juventude não é problema a ser contido, mas potência a ser cultivada”.

Para reverter essa realidade, é urgente implementar políticas que priorizem a juventude:

  • Investir em educação pública de qualidade, com foco na permanência e sucesso escolar.
  • Ampliar programas de cultura e esporte como ferramentas de inclusão e desenvolvimento pessoal.
  • Criar oportunidades de emprego e renda para jovens em situação de vulnerabilidade.
  • Fortalecer políticas de segurança pública que priorizem a prevenção e o respeito aos direitos humanos.
  • Implementar ações afirmativas que combatam o racismo estrutural e promovam a equidade racial.

A juventude é o futuro do país. Permitir que continue sendo vítima de uma violência evitável é comprometer o desenvolvimento social, econômico e humano do Brasil. Como propõe o CAJUEIRO, “é preciso fazer da política um lugar de escuta, acolhida e projeto de vida para os jovens”. É hora de agir com responsabilidade e compromisso, garantindo a vida e o potencial de nossos jovens.

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