OPINIÃO

Início da operação do Linhão Manaus–Boa Vista transforma realidade energética de Roraima

Senador Dr. Hiran Gonçalves*

A energização da Linha de Transmissão Manaus–Boa Vista, realizada nesta quarta-feira (10), em cerimônia na sede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em Brasília, marca um capítulo histórico para o Brasil e, de forma especial, para Roraima. Pela primeira vez, nosso estado passa a se integrar plenamente ao Sistema Interligado Nacional (SIN), superando décadas de isolamento energético que comprometeram o desenvolvimento, encareceram a vida da população e limitaram as oportunidades de crescimento econômico.

Cheguei a Roraima há mais de 40 anos e sempre sonhei em ver o nosso estado conectado de forma estável e segura ao sistema elétrico brasileiro. Recordo com carinho do meu amigo Dr. Phelippe Arce Daou, ex diretor da Rede Amazônica,  que lutou pelo desenvolvimento da região. Ele costumava me dizer: “Será que vou morrer sem ver Roraima integrada ao Brasil por meio de um sistema elétrico seguro e estável?” Infelizmente ele partiu antes de ver esse dia, mas sei que estaria feliz ao testemunhar essa conquista. Para mim, esse é mais do que um projeto de infraestrutura: é um sonho coletivo que se torna realidade.

A obra é grandiosa em todos os aspectos. Foram investidos R$ 2,6 bilhões para construir aproximadamente 725 quilômetros de extensão, em circuito duplo de 500 quilovolts, ligando a Subestação Eng. Lechuga, no Amazonas, até a Subestação Boa Vista, com um ponto intermediário em Rorainópolis. Esse empreendimento mobilizou cerca de 3 mil empregos diretos durante a construção e exigiu o esforço de trabalhadores que enfrentaram desafios imensos para erguer torres em áreas remotas da Amazônia.

Os resultados serão sentidos imediatamente pela população. A integração de Roraima ao SIN garante maior confiabilidade no fornecimento de energia, reduz os riscos de apagões e cria condições favoráveis para o crescimento econômico. Ao substituir gradualmente as usinas térmicas a óleo diesel, vamos reduzir em mais de 1 milhão de toneladas as emissões de CO₂ por ano, além de gerar economia superior a R$ 600 milhões anuais em combustíveis fósseis. É uma virada que une sustentabilidade ambiental e responsabilidade fiscal.

Com a interligação, abrimos caminho também para o escoamento de 700 megawatts de futuras hidrelétricas inventariadas em nosso estado, que poderão contribuir para o abastecimento do país. E, para os consumidores, o impacto será direto: energia mais estável, limpa e barata, sem a dependência da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), um encargo que pesava no bolso de todos os brasileiros para sustentar sistemas isolados como o nosso.

Sempre defendi que segurança energética é sinônimo de desenvolvimento. Hoje, Roraima vive um ciclo virtuoso: resolvemos a questão fundiária, ampliamos a produção agrícola para quase 200 mil hectares de soja e passamos a exportar para o Caribe e para a Ásia. Temos empresas se instalando no distrito industrial, e agora, com energia confiável, abrimos definitivamente as portas para novos investimentos e para a industrialização do nosso estado.

Esse resultado só foi possível porque houve continuidade administrativa e esforço coletivo. O Linhão começou a sair do papel no governo do presidente Jair Bolsonaro, quando se criaram as condições políticas e jurídicas para superar entraves históricos. Agora, a obra foi concluída e energizada. Não houve solução de continuidade, e isso precisa ser reconhecido. Houve também diálogo com as comunidades indígenas Atuari e Waimiri-Atroari, que aceitaram um acordo justo de compensação para a passagem da linha por suas terras. Foi uma construção coletiva, que respeitou a realidade local e buscou a sustentabilidade.

Tenho divergências com o atual governo, e não escondo isso. Mas aprendi que o bem de Roraima deve estar acima de preferências ideológicas. Por isso fiz questão de estar presente neste momento, celebrando uma conquista que não pertence a um partido ou a um político específico, mas sim ao povo de Roraima e ao povo brasileiro.

Além da energia, o Linhão também traz fibra óptica em sua estrutura, garantindo redundância no sistema de comunicações. Isso significa mais estabilidade para internet e telefonia, com três cabos distintos servindo o estado. É um salto tecnológico que se soma ao salto energético e que reforça a inserção de Roraima no século XXI.

Estou feliz, emocionado e orgulhoso de, neste ciclo da minha vida, participar de um evento que significa segurança, soberania e desenvolvimento para o meu estado. Essa é a vitória de todos que acreditaram, lutaram e não desistiram. Roraima esperou muito tempo por esse dia — e ele finalmente chegou. Agora, começa um novo ciclo de desenvolvimento e prosperidade para o nosso estado e para o Brasil.

*Dr. Hiran Gonçalves é médico e senador pelo Progressistas de Roraima.

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