Eu acredito em Papai Noel. Papai Noel não é mentira, é magia!
Sou do tempo em que se dormia cedo, para acordar com o presente debaixo da cama. Que alegria acordar com os presentes de Papai Noel. Lembro de cada um: carros de controle remoto, Autorama, Forte Apache, bolas, todos do fabricante Estrela.
Criei meus filhos, Rodrigo e Frederico, acreditando na magia do bom velhinho.
Não permita que uma criança que acredita nele seja privada de uma importante etapa da sua vida. Os dias em que é fácil acreditar na magia são curtos e devem ser guardados zelosamente. Para quem acha que há ingenuidade em acreditar em Papai Noel, digo que tem gente que acredita em políticos.
Papai Noel não é apenas um velhinho vestido de vermelho que traz presentes.
Ele assume um significado profundo e diferente para cada um de nós.
Ajuda-nos a acreditar, a esperar, a sermos melhores, nos faz sonhar…
Ele nos fez passar noites com os ouvidos tensos para ouvir o barulho do seu trenó e, mesmo adultos, nos faz sentir o ânimo leve de quem não é forçado a encontrar uma explicação racional para cada coisa.
Esta magia não se explica em palavras e não se pode encontrá-lo fazendo uma viagem ao polo norte. Aliás, quando criança morava em uma casa de telhado baixo, de fibra de amianto, uma fornalha, e mesmo assim acreditava que Papai Noel entraria pela janela do quarto, que deixava aberto. Minha casa não tinha chaminé, tinha amor, esperança e fé.
Quem não tem a capacidade de acreditar em Papai Noel, tem espírito pequeno e adormecido. Não permita que uma criança que acredita no bom velhinho perca a magia, a ilusão, o encantamento destas pequenas coisas.
Nesta época do ano, minha mente rebobina, em memória dos natais de outrora. Natal era sinônimo de festa. Minha mãe, Maria da Conceição, professora primária, se transformava, transbordava em alegrias, para celebrar o nascimento do menino Jesus. Começava pela pintura da casa: paredes, portas, janelas, grades. Com o piso de xadrez vermelho, a casa era toda encerada com escovão e cera Parquetina, que vinha em lata redonda. Depois ficou ‘mamão com açúcar’, a casa era lustrada com enceradeira Arno.
Minha mãe ia nos armazéns da rua Grande, para comprar tecido, conhecido como ‘pano’, para fazer roupas para ela e os seis filhos. A costureira, Maria Sales, nossa vizinha, previamente contratada, dava conta da demanda.
Na semana que antecedia o Natal, mamãe ia no Supermercado Lusitana, próximo de nossa casa para comprar pernil, frutas importadas, Cola Jesus, champanhe George Aubert, -já adulto descobri que era espumante. Não podia faltar queijo do reino Jong, em cuia com a foto do fundador. O peru vinha do sítio de meu avô, e morria de véspera, embebedado, com milho e cachaça. O pernil era assado na padaria do bairro. Mamãe fazia as rabanadas, as sobremesas, decorava a mesa. Na radiola de madeira ABC Canarinho, pé de palito, tocava LPs com canções natalina: “Jingle Bells”, “White Christmas”, interpretado por Frank Sinatra, e Last Christmas.
Outra festa era armar a árvore de Natal. A preocupação era quebrar as poucas bolas, extremamente frágeis, e com o pisca-pisca, de vidro, remanescente de inúmeros natais. Tudo mudou, as bolas não quebram e o pisca-pisca descartável, não dá choque.
Mas o mais importante do Natal eram as pessoas que estavam presente. Minha mãe e meu pai não estão mais aqui, agora só as memórias que me conectam ao passado.
Caro leitor, amiga leitora, se na noite de Natal não tiver peru, chester, pernil, farofa, maionese, panetone, frango assado ou seja lá o que for que você foi acostumado a colocar na ceia, por gentileza, não reclame. Olhe em volta e veja se todos os lugares estão ocupados; se estiverem, glorifique o bom Deus. Você não tem ideia de quantas famílias terão lugares vazios em sua mesa, faltando pessoas queridas que nunca mais voltarão para ocupa-los. É hora de refletir, de lembrar, que o mais importante não é o que está sobre a mesa, mas sim, quem está sentado em sua volta.
Feliz Natal com saúde, fé e paz.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”
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