OPINIÃO

Como apoiar os jovens a ingressar no ensino superior

Desenvolver projetos que simulem o ambiente do ensino superior podem ajudar nessa transição

Por Alexandra Xavier do Carmo Costa

O ingresso no ensino superior é marcado por intensas transformações pessoais. Nesse momento, é comum que os estudantes enfrentem sentimentos de ansiedade, insegurança, solidão e frustração. Isso porque, além das mudanças típicas da juventude, eles precisam lidar com decisões importantes, como organizar melhor o tempo e responder a novas formas de cobrança, habilidades que, muitas vezes, ainda estão em desenvolvimento.

Esses desafios podem impactar negativamente a experiência universitária e, em casos extremos, levar até à desistência. Segundo a 15ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil 2025, elaborado pelo Instituto Semesp, a taxa de evasão, ou seja, o abandono dos estudos antes da finalização de um ciclo educacional, tem sido maior do que a de conclusão.

O dado reflete um problema estrutural: muitos jovens chegam à universidade sem o preparo emocional e prático necessário para lidar com essa nova realidade. Além dos desafios acadêmicos, surgem questões como o distanciamento familiar, a necessidade de conciliar estudo e trabalho, dúvidas sobre a escolha do curso e até mesmo a dificuldade de criar vínculos. Por isso, é essencial investir em uma transição mais consciente e estruturada.

Do ensino médio ao ingresso no ensino superior

O impacto dessa mudança está diretamente ligado às diferenças significativas entre os dois níveis de aprendizagem. No ensino médio, a rotina costuma ser mais estruturada e acompanhada de perto por professores, coordenadores e famílias, tendo como foco o vestibular e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Já no ensino superior, o estudante se depara com uma lógica diferente: o ponto central é o mercado de trabalho e o desenvolvimento de competências específicas. O ambiente acadêmico exige mais autonomia, organização e iniciativa. Cabe a cada um gerenciar seu tempo, buscar ajuda, cumprir prazos e tomar decisões de forma independente.

Como preparar os estudantes?

Apesar das dificuldades, há formas eficazes de preparar os jovens para essa transição. As escolas podem desenvolver projetos que simulem o ambiente universitário, como oficinas de planejamento e visitas, rodas de conversa sobre saúde emocional e experiências acadêmicas, além de encontros com ex-estudantes que compartilhem estratégias e vivências. É importante também proporcionar atividades que estimulem o protagonismo e a autogestão.

Nesse processo, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais é fundamental: autonomia, tolerância à frustração, flexibilidade, capacidade de superação, organização, pensamento crítico, comunicação, resiliência e autoconhecimento. Essas competências devem ser trabalhadas ainda no ensino médio, por meio de projetos interdisciplinares, trabalhos em grupo e atividades que envolvam tomada de decisão e resolução de problemas, tudo isso em um ambiente que valorize a escuta e a aprendizagem com os erros.

O apoio da família

A escuta ativa, o acolhimento das dúvidas sem julgamento e o incentivo à autonomia em casa ajudam a fortalecer a autoconfiança dos estudantes. Encontrar o equilíbrio entre apoio e liberdade é essencial para que eles se sintam seguros para enfrentar os novos desafios e, ao mesmo tempo, desenvolvam a criatividade na hora de explorar novos caminhos profissionais.

Em suma, o ingresso no ensino superior é uma jornada de descobertas, que pode ser feita com leveza e segurança quando há um trabalho conjunto entre todas as esferas que cercam o estudante. O cuidado, seja na escuta, no apoio emocional ou na preparação prática, é o que transforma essa mudança em uma oportunidade real de crescimento.

Alexandra Xavier do Carmo Costa é orientadora e psicóloga educacional dos anos finais e Ensino Médio da unidade de Muriaé (MG) da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado de educação.

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