Walber Aguiar*
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Drummond
Era o dia seis de setembro de dois mil e doze. Estávamos todos ali, no centro de convenções do Naoum Plaza Hotel. Ouvíamos falar de um homem que andava, que, sendo Deus, submeter 1-se ao esvaziamento, como forma de experimentar, de sentir na carne as dores e os prazeres dispensados ao humano.
Nossa caminhada começa na aldeia de Belém, no estonteante clarão da estrela, na manjedoura visitada por magos e animais que pareciam compreender , em seu embrutecimento, o enorme significado daquele evento. Passa pelos doutores e vai ao deserto do isolamento e da tentação.
Depois de uma visita às câmaras mais interiores do ser, das lágrimas da lembrança, dos filmes da alma, da visita à fogueira do Maranata, compreendi que o passado, embora tido como salutar referência da história individual, não pode apresentar-se como o grande marco da existência, sob o estigma de vida com relevância e significado.
Ora, o Jesus histórico estava sempre a caminho. Esvaziado da glória e longe dos spots da fama, ele deseja que tenhamos em nós o mesmo sentimento que inundava seu peito. E uma das maiores referências do amor divino instalado na alma de um ser humano, aponta na direção do homem que ia de Jerusalém para Jericó.
Caio Fábio estava ali, desejando uma espécie de esvaziamento coletivo diário. Bregantim especificava os passos da caminhada do Nazareno. Chico caminhava de um lado para outro, numa ressignificação do caminho.
Estávamos todos ali, confortavelmente instalados. Depois da comunhão da ceia que celebrou a amizade e a vida, nossos pés não correram para pregar o evangelho; nossos pés eram o próprio evangelho…
*Poeta , professor de filosofia, historiador, professor de filosofia, membro da Academia Roraimense de Letras e da Academia de Letras Arte e Cultura da Amazônia