O Brasil tem se consolidado como um terreno fértil para startups, empresas emergentes com modelos de negócio inovadores e escaláveis. Segundo a plataforma de inovação Distrito, as startups brasileiras captaram US$ 1,46 bilhão em capital de risco desde o início de 2024, um aumento de 9,5% em relação ao mesmo período de 2023. Nesse cenário de crescimento e investimento milionário, surge a Pigz, uma startup 100% roraimense que não apenas compete, mas redefine o panorama do delivery, focando no fortalecimento da economia local e no bolso do pequeno empreendedor.
Uma solução local para uma dor global
A história da Pigz começa em um dos momentos mais desafiadores da história recente: a pandemia de COVID-19. Com o lockdown e o fechamento do comércio físico, especialmente o setor de alimentos, muitos estabelecimentos se viram em apuros, sem ferramentas digitais para continuar operando. Laercio Gentil e Leonardo Seefeld, sócios da Pigz, perceberam essa necessidade urgente. “A gente já atendia muitos desses restaurantes com outros serviços, e eles começaram a nos procurar demandando alguma saída”, explica Laercio.
A resistência em aderir às plataformas de delivery existentes era grande, principalmente devido às altas taxas de comissão. “Observamos que tinha um problema: tanto a falta de digitalização de um lado, quanto uma comissão exagerada do outro”, complementa Leonardo. Foi nesse contexto que a ideia de uma solução justa e acessível começou a tomar forma. Inicialmente, o objetivo era apenas ajudar os estabelecimentos a superar a pandemia. No entanto, o sucesso inicial e a percepção de que essa era uma dor mundial, não apenas local, transformaram a Pigz em um negócio promissor.
Crescimento e aprimoramento
Com o passar do tempo, a Pigz percebeu que a dor dos lojistas ia além da simples venda online. Era uma questão de gestão completa do negócio. “O lojista muitas vezes tinha que falar com quatro a cinco fornecedores diferentes: um para cardápio digital, outro para atendimento via WhatsApp, um para sistema de gestão que talvez não emitisse nota fiscal, e um para meios de pagamento”, detalha Laercio. Essa fragmentação gerava custos elevados e uma complexidade desnecessária para empreendedores que, muitas vezes, acumulavam diversas funções em seus negócios.
Foi então que a Pigz traçou um plano ambicioso: transformar-se em uma plataforma 360º. Hoje, a Pigz oferece uma solução integrada que abrange meios de pagamento, pedidos na mesa, atendimento de garçons via tablet, autoatendimento, cardápio digital, marketplace próprio, emissão de nota fiscal e gestão de estoque. “Nosso grande objetivo é tirar a responsabilidade do empreendedor nessa parte do sistema para que ele possa focar naquilo que realmente precisa”, afirma Leonardo. A plataforma foi desenvolvida para ser simples e intuitiva, facilitando a vida dos usuários.
Atualmente, a Pigz atende cerca de 1.500 empresas em todo o Brasil. Embora o marketplace seja forte em Boa Vista, a maioria dos clientes está fora da capital roraimense. A startup já ultrapassou a marca de 24 milhões de pedidos e o volume cresce anualmente.
O impacto milionário da Pigz na economia de Roraima
Um dos maiores diferenciais da Pigz é seu modelo de negócio, que visa reter o capital dentro do estado. Enquanto grandes aplicativos de delivery chegam a cobrar até 30% de comissão sobre as vendas, a Pigz adota um modelo mais justo, sem essa cobrança exorbitante. “Alguns clientes comparam: a mesma pizza da mesma loja em outra plataforma está 30% mais cara”, exemplifica Laercio. Essa diferença se deve ao fato de que os lojistas, para não terem seu lucro comprometido, são obrigados a repassar os custos da comissão para o consumidor final.
Leonardo Seefeld revela dados impressionantes. “Por mês, só de pedidos de delivery em Roraima, chegamos a bater 60 mil pedidos, o que representa quase R$ 4 milhões em valores”. Fazendo uma estimativa conservadora, a Pigz contribui para que aproximadamente R$ 9 milhões e 270 mil deixem de ser pagos em comissões a plataformas de fora e permaneçam circulando na economia local anualmente. “Isso não fica na nossa mão, estamos jogando na mão do empreendedor essa grana que ele está deixando de pagar de comissão, e isso movimenta a economia local”, destaca Leonardo. Essa injeção de capital fomenta o comércio, gera empregos e fortalece toda a cadeia produtiva roraimense.
A voz dos empreendedores
A recepção da Pigz pelos empreendedores locais tem sido extremamente positiva. Seu Ricarte, proprietário do tradicional restaurante Meu Cantinho, é um exemplo. Parceiro da Pigz há cerca de três anos, ele relata uma transformação em seu negócio. “Mudou muito o nosso movimento através dessa parceria com a Pigz. A gente não tinha sistema, e agora temos um sistema muito bom. As pessoas ligam, os clientes ligam e já encomendam, já mandam retirar ou têm entregador. Ficou ótimo”, afirma.
Além das vendas online, Seu Ricarte destaca as ferramentas de gerenciamento de mesa e a automação dos pedidos. “Não precisa do cliente se levantar para ir até o caixa. Na mesa mesmo, encerra o pedido sem problema nenhum. Faz o pagamento”, descreve.
Ele enfatiza a diferença em relação aos altos custos de outras plataformas. “A gente não trabalha com iFood. Realmente é muito caro repassar 30% para o cliente. É muito complicado.” Para Seu Ricarte, a economia gerada pela Pigz possibilita a contratação de mais pessoas, impulsionando a geração de empregos na região. “Aqui nós geramos 15 empregos diretos e indiretos, que passam de 25 os indiretos”, celebra.
Mylana Carvalho, da Graci Bolos, que surgiu em novembro de 2019, pouco antes da pandemia, também encontrou na Pigz um pilar fundamental para o seu negócio. Quando o lockdown veio, a Graci Bolos precisou focar exclusivamente no delivery. Ela relembra o caos dos pedidos via WhatsApp e como a Pigz foi a salvação.
“Chegou um momento que a gente não conseguiu humanamente atender uma demanda de pedidos no WhatsApp”, explica. Com a chegada da Pigz, cerca de dois ou três meses depois, a organização e o controle se tornaram realidade. “Hoje, 95% dos pedidos geram organização, geram um controle maior dos nossos pedidos”, pontua.
Mylana, que nunca utilizou outras plataformas, considera a Pigz de “extrema importância”. “Hoje, de 100% das nossas vendas, em torno de 35% a 40% é delivery. A gente consegue atender essa demanda que nós temos hoje por conta de um aplicativo eficaz, por conta de um meio eficaz que os nossos clientes conseguem fazer o seu pedido”, conclui. Ela enxerga a Pigz não apenas como um serviço, mas como uma empresa de sucesso, uma startup a nível nacional, que valoriza e fortalece a economia local.
A Pigz se orgulha de ser uma empresa 100% roraimense, gerando empregos e exportando tecnologia para outros estados, como ressalta Laercio. “A equipe de tecnologia está toda aqui em Roraima, a equipe comercial está toda aqui em Roraima. A gente está gerando emprego aqui em Roraima e exportando tecnologia. Isso é uma coisa inédita aqui no nosso estado”. A proximidade com os empreendedores locais e a disposição em oferecer suporte que vai além da plataforma, como auxílio em marketing e fotografia, são pilares da abordagem da Pigz, aponta.
“Nossa ideia é que esse cara cresça, que ele venda, que ele se dê bem, que ele consiga aumentar a capacidade da empresa dele de atender o cliente”, afirma Laercio. Essa mentalidade de parceria contribui para elevar o nível de exigência e qualidade do atendimento no mercado local.
Com a meta de “pintar o Brasil de laranja”, a Pigz mostra que uma startup nascida em Roraima pode sim competir com gigantes e promover um desenvolvimento econômico sustentável e com impacto real na vida dos empreendedores locais.