A obra de Romance “Ode de Ana Maria“ escrita pelo professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Simão Farias, entrou para o acervo Praça Clóvis. A iniciativa é um mapeamento crítico da literatura brasileira dos últimos 55 anos.
O livro que é o único representante de Roraima no acervo, até agora, retrata de forma narrada como cada um dos personagens viveu o dia posterior à uma tragédia em um lugar em que prevalecem exploração ilegal do meio ambiente e disputas por terras. Emocionado pelo reconhecimento o autor explicou que o tema central de seu romance está mais atual do que nunca.
“A disputa por terras vem de tempos arcaicos e parece ser algo que nunca vai acabar. No contexto atual, percebemos disputas com objetivos políticos e econômicos, deixando acuados sujeitos e comunidades vulneráveis que têm um propósito socioambiental de sobrevivência e preservação da natureza”, explicou o autor.
Publicado pela editora Ideia em 2016, o livro é o oitavo trabalho e o primeiro romance escrito por Simão Farias. Ao longo de sua experiência enquanto escritor, o professor destacou que essa publicação é fruto de seus esforços contínuos ao longo dos anos.
“É o resultado da minha produção literária desde 2009 com a publicação do primeiro livro. Acredito que esse reconhecimento valoriza a literatura produzida na Amazônia e a temática ambiental”, comemorou o professor.
Inspirações Roraimenses
Natural de João Pessoa (Paraíba) , Simão Farias é professor do curso de comunicação da UFRR desde de 2004. O professor se inspirou nas vivências roraimenses que teve ao longo de sua trajetória aqui no estado.
“Como escritor, estou num contexto frutífero para a produção literária ambiental. Roraima possui uma diversidade cultural, social e de ecossistemas no bioma amazônico. Utilizei essas referências como base para denunciar os danos ambientais causados pelo que hoje denominamos necropolítica – uma política que, em última instância, privilegia interesses econômicos em detrimento não apenas da vida humana, mas de todos os seres vivos”, explicou o autor.
O autor da obra aborda temas tão atuais em nosso estado, como a luta por terras vivida pela protagonista. O professor explicou como inseriu a temática na narrativa e compartilhou como enxerga o futuro das causas ambientais em Roraima
“Desde o surgimento de causas sociais plurais nos anos 1960, a ecologia e a preservação vêm ganhando cada vez mais adeptos. No Brasil, 66% da população sabe acerca das mudanças climáticas. Desta forma, as pessoas vão entender a proximidade com que os eventos extremos acontecem e passam a valorizar os ecossistemas”, esclareceu o escritor.
Ode de Ana Maria
Em Ode de Ana Maria, o autor Simão Farias Almeida constrói uma narrativa que se desdobra em 16 capítulos. Ana Maria, moradora da zona rural, vive em uma casa cujos cômodos ocupam terrenos disputados: a sala invade a fazenda do Coronel Tonico; o quarto, áreas ilegalmente adquiridas por uma fábrica; e a cozinha, território Wai-Wai. Sua história pessoal espelha a violência do lugar: órfã após o assassinato dos pais pelo capataz Tomaz (que a violentara, assim como à filha do Coronel, Alice), ela e a irmã sobrevivem graças ao vaqueiro Firmino, única figura benevolente em um cenário de corrupção e omissão.
Sobre a repercussão da obra tendo reconhecimento do acervo literário, o autor comemorou a repercussão e afirmou que esse é um passo importante no reconhecimento de pautas ambientais voltadas para a nossa região.
“Essa repercussão valoriza os conhecimentos ancestrais indígenas também em nosso estado, fazendo entender nosso papel de conservação neste planeta rico em sociobiodiversidade”, esclareceu o escritor.
Como representante de Roraima com um livro de romance mapeado em acervo literário, o professor deixou seu conselho para aqueles que sonham em se tornar escritores um dia.
“Comece pelos rascunhos e, gradualmente, vá selecionando seus melhores textos. Com tempo e dedicação, você publicará seu primeiro livro – e, muito provavelmente, nunca mais parará, pois nossa produção literária existe para servir. Em um mundo marcado por fragilidades sociais e socioambientais, onde faltam tanto denúncias quanto soluções concretas, a literatura se faz necessária: seja para inspirar políticas públicas, seja para mobilizar a sociedade civil”, concluiu Simão Farias