MISORDO

Libras como língua de acolhimento transforma a inclusão de migrantes surdos em Roraima

A iniciativa já certificou mais de 150 alunos e organizou mais de 15 turmas

Foto: divulgação
Foto: divulgação

Um programa universitário tem gerado uma onda de acolhimento em Boa Vista. Voltado para migrantes surdos vindos da Venezuela, o MiSordo oferta o curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras) como língua de acolhimento, contribuindo para o fortalecimento da comunicação e inclusão social de famílias recém-chegadas ao Brasil. A iniciativa, que já certificou mais de 150 alunos e organizou mais de 15 turmas desde sua criação, é desenvolvida por professores e acadêmicos da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

A professora da UFOPA, Thaisy Bentes, coordenadora do programa, explica que a ação busca construir pontes entre diferentes culturas linguísticas. “A proposta é acolher, valorizar a identidade dos surdos venezuelanos e proporcionar acesso à comunicação em Libras, respeitando as vivências e experiências desses migrantes, que já têm sua própria língua de sinais, a LSV (Língua de Sinais Venezuelana)”, afirma.

Os encontros são realizados em espaços comunitários, algumas vezes em abrigos durante o processo de interiorização, com atividades práticas conduzidas por educadores bilíngues, tradutores-intérpretes e voluntários. Muitas famílias participaram juntas das aulas, o que fortaleceu os vínculos e melhorou a comunicação em casa e na cidade nova.

Como é o caso da venezuelana Dayana Carolina Cabelo, de 41 anos, participou de uma das oficinas oferecidas pelo projeto em abril deste ano. Ela chegou a Boa Vista em novembro de 2019 e após seis anos em Boa Vista, encontrou no curso uma oportunidade de transformar sua relação com o próprio filho, que é surdo.

“O que mais me marcou foi adquirir um novo conhecimento em Libras. Foi a primeira vez que participamos de um curso de língua de sinais. Meu filho não pôde aprender na Venezuela, e agora agradecemos a chance de aprender aqui no Brasil, como a língua portuguesa. Ele é muito inteligente, aprende rápido, e nós praticamos em casa para apoiar e o ajudar a socializar, e compreender melhor o mundo”, relatou.

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Dayana destacou a importância de também aprender a língua de sinais para se comunicar melhor com o filho. “Este curso foi uma bênção. Aprendemos muito e queremos seguir aprendendo”, disse.

Atuação e Impacto do Projeto

O projeto vai além do ensino e atua também na formação de intérpretes do curso de Letras-Libras da UFRR, junto a Pastoral Universitária. Foto: divulgação

O projeto vai além do ensino da Libras. Atua também na formação de intérpretes do curso de Letras-Libras da UFRR, capacita agentes comunitários no estado e fomenta o coletivo MigranSor — espaço no qual os próprios migrantes egressos do curso, com apoio pedagógico, ministram as aulas para novos alunos.

“O projeto tem uma característica muito forte de protagonismo. Com o coletivo MigranSor, os próprios migrantes passam a ministrar as aulas, com acompanhamento da nossa equipe. Isso fortalece a autonomia, a autoestima e o sentimento de pertencimento”, destacou a professora.

Desafios e Perspectivas Futuras

Mas o trabalho também esbarra em obstáculos. Entre os desafios citados por Thaisy estão a escassez de materiais acessíveis em Língua de Sinais Venezuelana (LSV) e a ausência de políticas públicas específicas voltadas à população surda migrante. “Ainda enfrentamos barreiras importantes. O acesso a materiais pedagógicos bilíngues é limitado, e há um vácuo nas políticas públicas para esse grupo. Buscamos superar isso com criatividade e escuta ativa da comunidade”, afirma.

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