EDUCAÇÃO INDÍGENA

Dia Estadual do Professor Indígena: resistência e compromisso de educadores em áreas isoladas no Uiramutã

Em Roraima, cerca de 2.800 professores indígenas atuam na rede estadual; só no Uiramutã, são mais de 6 mil alunos atendidos em áreas de difícil acesso

seletivo educação
(Foto: ilustrativa/ASCOM/SEED)

Celebrado nesta segunda-feira (28), o Dia Estadual do Professor Indígena chama atenção para os desafios enfrentados diariamente por educadores que atuam em comunidades de difícil acesso, especialmente em regiões como o Uiramutã, município mais indígena do Brasil.

Instituída pela Lei nº 1.180/2017, a data homenageia os profissionais responsáveis por manter viva a educação diferenciada, bilíngue e intercultural nas escolas indígenas do estado. Em Roraima, cerca de 2.800 professores indígenas atuam na rede estadual. Só no Uiramutã, são 238 docentes na rede municipal, dos quais apenas 40 são efetivos, segundo a Secretaria Municipal de Educação.

Na prática, muitos desses profissionais enfrentam condições extremas para manter o ensino funcionando. Um deles é o professor Alex Barbosa dos Santos, do povo macuxi. Ele leciona na escola estadual indígena Padre Antônio Curti, na comunidade Caraparu I, e também atua na rede municipal. Só nas duas escolas, atende 246 alunos, da educação infantil ao Ensino Médio.

Professor Macuxi Alex Barbosa. Foto: reprodução

“No Uiramutã, um dos maiores desafios é a formação. Muitos ainda não conseguiram concluir os estudos por causa da distância. Também falta estrutura nas escolas, apesar das reformas. A educação precisa de mais atenção”, disse Alex, que é formado pelo Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Ele reforça que o reconhecimento não deve ser apenas simbólico. “Ser professor indígena é ser guardião da língua, da memória e dos valores do nosso povo. Comemorar essa data é lembrar nossa luta histórica por uma educação que respeite nossas realidades.”

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Em sala, mesmo sem luz ou merenda

A professora Denize Pereira, também macuxi, leciona na comunidade Maloquinha, onde só se chega de canoa. Todos os dias, antes das 5h da manhã, ela cruza 300 metros no rio Kinô para chegar à escola indígena Calixto Abelardo, onde ensina oito crianças da educação infantil.

A estrutura da escola se resume a um quadro branco fixado na parede de taipa. Apesar das condições, Denize se dedica e valoriza na educação das crianças.

Professora Denize Pereira. Foto: reprodução

“Não é fácil dar aulas aqui na região. No meu caso, só chego à escola de canoa, mas quando o motor quebra, entro na mata e vou andando. E graças a Deus sempre chego. Eu só peço que nossos governantes, nossos políticos olhem com mais carinho para nossas crianças, pois elas têm o mesmo direito das outras”, observou a professora.

Denize é macuxi criada às margens do rio Kinô e começou a lecionar na sua comunidade assim que terminou o Ensino Médio, com 17 anos. Naquele tempo, relembra, havia uma carência muito grande de professores na região. Depois, ela se qualificou e finalmente assumiu de forma definitiva uma turma do ensino infantil.

Entre as reivindicações, Denize cobrou principalmente melhor estrutura física em sua escola. “Não é por mim, mas por essas crianças. Nem merenda escolar o governo aqui entrega mais. É um descaso com nossos alunos, infelizmente”, lamentou a professora.

Data reforça importância dos educadores

A atuação dos professores indígenas no Uiramutã é o que sustenta a educação do município. O secretário municipal de Educação de Uiramutã, Damázio de Souza Gomes, destacou que a data reforça a importância desses educadores na preservação dos saberes e na valorização da diversidade cultural.

“Este dia é muito importante porque reconhece e valoriza o papel fundamental desses educadores na preservação e transmissão dos conhecimentos tradicionais de nossos povos indígenas, fortalecendo suas identidades e promovendo a diversidade cultural. A data também destaca a importância da educação intercultural e do respeito aos direitos dos povos originários”, disse.

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