
A empolgação típica de dezembro costuma vir acompanhada de um efeito colateral conhecido por muitas famílias: contas que não fecham quando o calendário vira. Entre confraternizações, presentes e viagens, o aumento do consumo no fim do ano pode comprometer diretamente o orçamento de janeiro e fevereiro, meses tradicionalmente pressionados por despesas fixas e previsíveis.
O alerta ganha ainda mais peso diante do cenário nacional. Dados do Indicador de Inadimplência de Pessoas Físicas, divulgado pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas e pelo SPC Brasil, mostram que quase 72 milhões de brasileiros estão inadimplentes, o maior número desde o início da série histórica, em 2015.
Para o professor César Barreto, do curso de Administração da Estácio, o dado reforça a urgência de tratar a educação financeira como prioridade, especialmente neste período. Segundo ele, despesas como IPTU, IPVA, matrículas escolares e renovações de contratos não surgem de surpresa e costumam se concentrar no começo do ano.
“O ideal é mapear esses custos agora e reservar parte do 13º salário ou de alguma renda extra para honrar esses compromissos sem sufoco”, orienta.
O especialista chama atenção para um comportamento recorrente em dezembro, o aumento do padrão de consumo. De acordo com ele, grande parte das dificuldades enfrentadas no início do ano nasce justamente nos excessos dos meses anteriores. “Exceder nos gastos, mesmo que pareça inofensivo, compromete a renda futura. Quem consegue atravessar dezembro dentro do próprio limite já começa 2026 em vantagem”, afirma.
Entre as estratégias para manter o orçamento sob controle, César destaca medidas simples, mas decisivas. A primeira é registrar todas as despesas, fixas, variáveis e eventuais, para ter visão real do dinheiro que entra e sai. A segunda é criar o hábito da reserva mensal, ainda que com valores pequenos. “Guardar R$ 50 por mês resulta em R$ 600 ao fim do ano, o que já ajuda a aliviar as contas do próximo ciclo”, exemplifica.
As compras de fim de ano também exigem atenção redobrada. Para o professor, definir um teto de gastos com presentes, viagens e celebrações, e respeitá lo, faz toda a diferença. Ele ainda recomenda cautela com parcelamentos que avancem para o ano seguinte. “Janeiro já é um mês financeiramente pesado. Pagar à vista evita juros e permite enxergar, com clareza, o impacto real da compra no orçamento”, avalia.
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Para quem sente dificuldade em manter disciplina financeira, o conselho é começar pelo básico e dar um passo de cada vez. “Escolha um hábito para mudar, anotar gastos, evitar parcelamentos ou separar uma pequena porcentagem da renda. O importante é começar. Quando os resultados aparecem, a disciplina deixa de ser um peso e vira motivação”, conclui.