Necessidade e desejo são, além de palavras, construtos criados pelo ser humano para expressar sensações únicas da nossa espécie. Do ponto de vista antropológico e filosófico, a necessidade não se reduz somente a uma estrutura de condição natural, mas algo que se constrói e se transforma a partir do modo de vida, das relações sociais e dos sentidos atribuídos à própria existência.
O desejo, por sua vez, partindo da mesma perspectiva, é entendido como constitutivo do ser humano. O desejo serve, sobretudo, para pôr os corpos em movimentos, processo que resulta na criação e na busca de algo. Desejo e necessidade são, portanto, mecanismos da subjetividade da própria condição humana.
Do ponto de vista da prática aplicada ao cotidiano, compreender esses conceitos é uma das bases, por exemplo, para o desenvolvimento de uma vida financeira mais equilibrada. O ambiente econômico do nosso tempo, tal como conhecemos hoje, é pautado especialmente por uma estrutura que gira em torno da criação de desejos que, muitas vezes, acabam apresentando-se como necessidades.
Compreender como transitar nesse terreno é uma tarefa muitas vezes árdua, mas não impossível. A necessidade, então, é tudo aquilo que é indispensável para a sobrevivência. Essa necessidade não é homogênea, ou seja, altera-se e adapta-se às questões mais importantes de uma determinada sociedade.
Embora a necessidade seja variável, algumas são universais, como acesso a alimentação, água, moradia, entre outras. No entanto, o desejo é tudo aquilo que almejamos ter, mas é algo que pode ser dispensável, ou seja, não é uma condição de sobrevivência ou existência.
É importante fazer essa distinção. O desejo sempre será ilimitado, porque é tudo aquilo que se busca, um lugar que se quer conhecer, uma viagem, um automóvel, e por aí vai. Contudo, os recursos dos quais dispomos são limitados para a maioria das pessoas em termos financeiros, e não o contrário.
Quando se observa esse cenário, entende-se que, em relação ao consumo, a educação financeira, quando trabalhada desde cedo, contribui não só para evitar o endividamento, mas também para formar cidadãos mais conscientes do seu papel no sistema econômico – considerando que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70% dos trabalhadores brasileiros recebem até dois salários mínimos.
Nessa perspectiva, o primeiro passo para gerir as finanças com base na necessidade e no desejo é dividir os gastos entre fixos (necessidades) e variáveis (desejos). Os fixos podem ser conta de água, luz, internet, aluguel, plano de saúde, alimentação, etc. As variáveis são basicamente imprevistos e lazer.
Uma excelente estratégia para controlar os gastos é, por exemplo, questionar-se antes de comprar: realmente preciso disso? Essa compra afetará o orçamento nos próximos meses? Conseguirei lidar com isso? Uma forma de auxiliar nessa caminhada, por exemplo, é o cartão para menor de idade.
Este tipo de cartão permite um controle supervisionado dos gastos dos jovens – uma forma de os pais introduzirem conceitos como limite, planejamento e prioridade, que compõem o cenário da necessidade e do desejo.
No fim, no âmbito financeiro, reconhecer a diferença entre necessidades e desejos é um exercício de autoconhecimento cotidiano. Essa distinção, quando compreendida ainda na juventude, tende a gerar adultos mais conscientes financeiramente e menos suscetíveis a fazer compras sem controle.