Em entrevista ao programa Agenda da Semana na Rádio Folha FM 100.3, o geólogo Salomão Cruz fez um amplo relato sobre a situação das terras raras no Brasil e no mundo. “Terras raras são elementos químicos, não são tão raras como parecem, como dizem. São 17 metais empregados na tecnologia de ponta, como turbinas eólicas, carros híbridos, celulares, tablets, computadores e baterias”, explicou o especialista.
Sobre a distribuição global desses recursos, Cruz foi enfático: “A China tem mais de 40% das terras raras que existem no mundo. O Brasil tem mais de 20% e o Vietnã tem mais ou menos a quantidade do Brasil. Somando as reservas da China, do Vietnã e do Brasil, dá mais ou menos 80%”. No entanto, ele destacou a contradição brasileira: “O Brasil produz menos de 1% das terras raras do mercado internacional e vende essa produção todinha para a China”.
O geólogo fez um alerta sobre as reservas amazônicas: “Nós temos, segundo Miguel Martins da CPRM, as terras raras existentes lá em Seilagos, no Alto Rio Negro, em quantidade exatamente igual à da China. Fora essa da Amazônia, que tem vários locais com ocorrências significativas”. Porém, apontou os obstáculos: “Lá é Unidade de Conservação, é área indígena, não tem estrada, é inviável explorar atualmente”.
Sobre o domínio chinês no setor, Cruz foi categórico: “A China beneficia 90% da produção de terras raras do mundo. Ela abastece os Estados Unidos com mais de 70% do consumo americano”. E completou: “O que os Estados Unidos querem é comprar a produção nacional e incentivar a produção nacional para evitar que essa produção seja vendida para os chineses, porque os chineses têm o monopólio”.
Quanto à situação brasileira, o geólogo criticou: “O Brasil quase não produz. De cada mil áreas requeridas para pesquisa mineral, cem são viáveis. Dessas cem, duas são transformadas em minas. O tempo que demora o investimento em pesquisa mineral, da pesquisa até a produção, está a mais ou menos dez anos”. E acrescentou: “Não tem capital nacional que invista de forma maciça na mineração. Todo o capital investido na mineração é estrangeiro”.
Recursos Minerais em Roraima e a Demarcação de Terras Indígenas
Sobre as reservas de Roraima, Salomão Cruz revelou: “Em Roraima, 90% das ocorrências minerais estão em área indígena. Na área do Omama, todo o potencial mineral de Roraima está em terras indígenas”. Ele citou o caso específico: “Quando a CPRM identificou a possibilidade de uma mina de fosfato na Jaradi, que tem terras raras associadas, a demarcação da Terra Indígena Omama foi estendida para incluir essa área”.
O especialista fez um alerta sobre o risco de perder a janela de oportunidade: “Minério só vale quando é tirado do chão. Se continuar no chão, como lá em Seilagos, que tem quantidade de terras-raras igual à região da China, e nós não explorarmos, vai ficar lá e não vai servir como museu”. Ele lembrou casos históricos: “O estanho perdeu o valor quando o mercado buscou alternativa com o alumínio. A mesma coisa vai acontecer com o nióbio e pode acontecer com as terras raras”.
Política Mineral Brasileira e a COP-30
Quanto à política mineral brasileira, Cruz foi crítico: “O serviço geológico do Brasil não tem dinheiro pra pesquisa. A CPRM tem feito a reavaliação dos trabalhos que fez anteriormente, mas falta capital pra investir em pesquisa mineral”. Ele também comentou sobre a COP-30: “A COP-30 é para vender a Amazônia como área de preservação permanente. Quer dizer, a Amazônia está em processo de internacionalização”.
“Como geólogo e como brasileiro, o que eu sempre defendi foi que a gente conheça o subsolo brasileiro. Nós temos recursos minerais em quantidade suficiente que dá para fornecer para o mundo, mas precisamos explorar esses recursos minerais. Minério só serve para investir na população, só tem valor quando ele sai da terra e é investido em benefícios da população”, finalizou Salomão.
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