Há 15 anos, Antônia (o nome verdadeiro foi trocado para preservar sua identidade) trocou Belém (PA) por Boa Vista. Mãe de três filhos, ela já trabalhou como taxista e frentista. Mas, foi o tráfico de drogas que mudou a sua vida. Hoje, ela é uma das 145 reeducandas da Cadeia Pública Feminina de Boa Vista, única unidade prisional destinada a mulheres no Estado.
O crime pelo qual ela cumpre pena é o mesmo de 80% das internas da Cadeia Feminina. Quinze por cento estão presas por homicídio e o restante por outros crimes. A história de Antônia é semelhante à de tantas outras brasileiras, que são presas “por enfrentar dificuldades e ver no tráfico de drogas a possibilidade do dinheiro fácil”.
Ao ver o então marido preso por tráfico de drogas, Antônia seguiu o mesmo caminho e foi presa. “Eu não sabia vender e acabei sendo flagrada”, disse. Ele saiu da cadeia depois de um tempo, mas depois continuou cumprindo a pena definitiva por quase seis meses.
Antes de ser condenada, quando saiu da prisão antes de receber a sentença, com os filhos ainda pequenos, decidiu se separar do marido, pois ele a impedia de trabalhar. Ela escolheu trabalhar como taxista copiloto. “Eu tinha que bancar o táxi, pagar o conserto, caso eu batesse o carro, e bancar a manutenção. Eu acabei me endividando e parei de ganhar dinheiro”, disse.
Por intermédio de uma amiga, Antônia foi trabalhar como frentista. “Algumas pessoas me diziam pra não falar que eu tinha antecedentes criminais, mas um amigo me aconselhou que eu fosse verdadeira. Eu falei pra gerente do posto que eu já tinha sido presa e voltei pra casa chorando, achando que seria demitida. No outro dia, ela me chamou e disse que me daria uma chance. Fiquei morta de feliz”, lembrou.
No posto de combustível, Antônia trabalhou por um ano, até a gerência de o local mudar, e ela ser demitida. “Depois disso, eu consegui manter a casa por alguns meses, mas a pensão dos meus três filhos era R$ 470,00 e só de aluguel eu pagava R$ 300,00. Eu fazia currículo, entregava, mas ninguém me chamava”.
Uma noite, Antônia saiu com umas amigas “do mundo errado”, que sugeriram que ela voltasse a vender drogas. “Eu voltei a vender porque era um dinheiro fácil, mas me dei mal. Minha sentença da primeira prisão saiu e, no dia que foram me buscar pra cumprir a pena [de cinco anos e oito meses no regime semiaberto], eu fui pega em flagrante”, recordou.
Foi quando Antônia voltou para a Cadeia Feminina e hoje, aos 37 anos, recebe as visitas dos três filhos e de dois amigos. Os pais e os irmãos moram em Belém e não a visitam. “Meu filho mais velho, de 17 anos, estuda e trabalha com manutenção de central de ar. Não é envolvido com o crime. A minha filha do meio, de 14 anos, estuda em um colégio militar e o mais novo, de 11 anos, também estuda”, disse.
Os três filhos moram com o ex-marido de Antônia. Como a Carteira de Trabalho era assinada quando ela trabalhava como frentista, a família tem direito a receber o auxílio reclusão, em torno de R$1 mil por mês.
Prisão acabou se transformando em oportunidade para voltar a estudar
Enquanto está presa, Antônia aproveita o tempo para estudar. “Entrei aqui com o 8º ano do Ensino Fundamental e quero terminar o Ensino Médio ainda esse ano. É uma oportunidade, porque se eu tivesse lá fora, eu não teria procurado voltar a estudar”, comentou. Ela participa de todos os cursos que são ofertados às reeducandos. Já aprendeu a fazer bolo, pão, bordado…
O relacionamento com as outras 144 é tranquilo. “Não tenho intriga com ninguém. Aqui aprendi a ter mais paciência e, quando as presas novas chegam, nervosas, afoitas, eu converso com elas para acalmá-las”, comentou. Quanto à existência de facções criminosas na Cadeia Feminina, Antônia explicou que como as presas são geralmente companheiras de detentos de outras unidades prisionais, elas tentam organizar uma facção, que logo é desarticulado pelas agentes penitenciárias.
Antônia confessa que errou ao traficar drogas e tem consciência de que está pagando pelo erro. “Eu não era uma má pessoa lá fora. Mas, depois que fui presa pela primeira vez, senti o preconceito. Alguns colegas taxistas falavam que uma traficante sujava o nome da classe. Hoje meu foco é sair daqui”.
A expectativa é progredir para o regime semiaberto no próximo ano e voltar a trabalhar como taxista. “Depois que eu terminar de cumprir minha pena aqui, quero voltar para Belém. Meus pais dizem que lá é mais fácil conseguir emprego e vão conseguir me ajudar. Quero cumprir minha pena e ir embora”. (V.V)
Mulheres recebem programação especial durante todo este mês
A programação voltada às mulheres, em alusão ao dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, desenvolvida pela Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), prossegue em Boa Vista. Ontem, teve início a oficina de culinária do programa Crédito do Povo, realizada em parceria com o Centro Estadual de Formação dos Profissionais da Educação de Roraima (Ceforr) e o programa Cozinha Brasil, do Serviço Social da Indústria de Roraima (Sesi). O curso aborda o aproveitamento integral de alimentos e ocorrerá até o dia 16, na Setrabes.
Amanhã, dia 8, a Rede Cidadania Atenção Especial realizará uma programação destinada às servidoras, usuárias dos serviços da Rede, mães e mulheres da comunidade em geral. Pela manhã, das 10h às 11h, será realizada a palestra “Rodízios e Dietas na Saúde da Mulher” e ginástica laboral. No período da tarde ocorrerão a palestra “O papel da mulher na sociedade” e atividades de ginástica laboral.
De 20 a 23, o Instituto Federal de Roraima (IFRR) irá percorrer os bairros adjacentes ao Nova Cidade para realizar visitas domiciliares e coletas de exames, como o hemograma. No dia 24, será realizada a entrega dos resultados, que poderão ser levados aos atendimentos de saúde durante a realização da Caravana da Mulher, no dia 25, na Escola Estadual Rittler de Lucena. No dia 31, a Caravana será na Escola Estadual Presidente Castelo Branco, no Município de Caracaraí.