Uma tese defendida pelo juiz Rodrigo Furlan mostra bem a realidade dos bastidores da política em Roraima. Se antes havia apenas suspeitas de que eleitores residentes em Boa Vista eram transferidos irregularmente para votar em outros municípios e decidiam eleições para prefeitos e vereadores, agora, com a tese, já se pode comprovar. Segundo o magistrado, a probabilidade de eleitores transferidos de Boa Vista influenciarem diretamente nas eleições dos municípios do interior do Estado é de 50%.
A tese do magistrado é reflexo da larga experiência de já ter atuado como juiz eleitoral na 3º Zona Eleitoral, no Município de Alto Alegre, a Centro-Oeste do Estado, e na 5º Zona de Boa Vista. Hoje ele é juiz titular do 3º Juizado Especial e professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Furlan tem formação em Ciências Políticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O magistrado resolveu desenvolver a tese depois de ter deixado de atuar nas zonas eleitorais e mostrar os impactos nas eleições municipais consequentes da transferência irregular de eleitores de Boa Vista para votarem em outros domicílios eleitorais pelos municípios do interior do Estado. A tese, defendida em setembro de 2014, teve como base as eleições nos municípios do Cantá (Centro-Sul), Alto Alegre, Amajari e Pacaraima (ambos na região Norte do Estado), e comprova a existência do problema que repercute nos demais municípios do interior de Roraima.
“A tese foi toda fundamentada nesse problema e mostra um impacto enorme em mais de 50% de probabilidade em que eleitores transferidos de Boa Vista estão influenciando nas eleições para prefeitos e vereadores nos municípios do interior”, frisou.
Para ressaltar sua tese, Furlan destaca a Capital roraimense como “Cidade Estado”, e a compara a Atenas, capital da Grécia antiga. “Da Grécia só se falava em Antenas, e Boa Vista é a mesma coisa. O problema é Boa Vista projetar sua influência do seu poder político em cima de municípios que são muito pobres e que precisam da participação política dos moradores para alcançar o desenvolvimento”, disse.
Para Furlan, o problema não esta só em eleitores saírem de Boa Vista e elegerem representantes em outros municípios, mas também o de elegerem pessoas que moram em Boa Vista. “Assim o problema aumenta ainda mais. Pois, se na rua onde você mora tem um buraco, mas se o vereador também mora lá, é provável que o vereador faça uma indicação para tapar aquele buraco. Mas se ele mora em outro município, nem fica sabendo o que está acontecendo”, frisou.
Com atitudes assim, Furlan afirma que a legitimidade do processo democrático eleitoral do interior é colocado em xeque e, ao final de sua tese, encaminhou recomendações ao Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE/RR) quanto à continuação dos projetos de conscientização, como o programa Eleitor do Futuro.
“Isso tendo como base que a parte de educação política é praticamente inexistente em Roraima, por parte dos partidos políticos, que não apresentam participação efetiva com a sociedade. Entendo que a conscientização política pela educação é um dos pontos que faltam”, frisou, ressaltando outro ponto: sem liberdade econômica no Estado, não se pode falar em liberdade política. (R.R)
Cotidiano