Cotidiano

Terceirizados continuam sem previsão de receber salários

Promessa de pagamento do mês de janeiro não foi cumprida e governo afirma aguardar respostas para fazer repasse

Após o anúncio de que o pagamento dos salários referentes a janeiro deste ano seria feito em 4 de fevereiro, os empregados de empresas terceirizadas seguem sem previsão para receber. Em nota enviada à Folha ontem, 7, a Secretaria Estadual de Comunicação (Secom) informou que aguarda retorno de parecer da Controladoria-Geral do Estado para ser feita a ordem bancária.

De acordo com a nota, uma análise técnica foi feita nos processos das empresas que prestam serviços de limpeza e auxílio a alunos nas escolas estaduais e ainda se espera o resultado. As informações repassadas pelo governo ressaltavam que os pagamentos dos meses seguintes também seriam feitos normalmente.

Os trabalhadores terceirizados completam oito meses sem salários, recebimento de férias e décimo terceiro. Em relação aos meses anteriores, o governo informa que só serão feitos os pagamentos quando o Estado voltar a apresentar equilíbrio financeiro orçamentário. Na nota enviada pela Secom, não há esclarecimentos sobre a previsão de quando será dada a ordem bancária.

Adolescentes ganharam tênis novos para substituir os rasgados que usavam para ir à escola (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

ACAMPAMENTO – Sem respostas e salários, trabalhadores estão acampados há mais de um mês em frente ao Palácio Senador Hélio Campos e afirmam que só vão se retirar do local após o pagamento integral dos atrasados. São em torno de 1.500 funcionários contratados pelas empresas. Os empregados das terceirizadas recebem qualquer tipo de doação no próprio acampamento e divide entre eles, a qualquer hora do dia.

Empregada de terceirizada recebe doações após matéria da Folha

Dentro de uma caixa, estavam kits com material escolar completo, roupas e pares de tênis para os adolescentes de 13 e 14 anos (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

Durante uma semana, a Folha de Boa Vista fez uma série de reportagens especiais sobre a situação enfrentada pelos trabalhadores terceirizados. Em uma delas, há o relato de uma mãe que recebeu mensagens com ameaça de despejo por não pagar parcelas do programa Minha Casa, Minha Vida, além dos dois filhos que usam fardamento e tênis rasgados para irem à escola.

Após a publicação da matéria, diversas pessoas procuraram o Jornal solicitando entrar em contato com a servidora, que prefere não se identificar para não revelar para conhecidos a situação pela qual passa, e pudessem fazer doações para ela e a família. Na tarde de ontem, 7, uma equipe da Folha voltou à residência para entregar os donativos.

Dentro de uma caixa, estavam kits com material escolar completo, roupas e pares de tênis para os adolescentes de 13 e 14 anos. A família também recebeu cestas básicas e uma quantia em dinheiro para tentar pagar uma das contas de energia atrasada.

“Para quem não tinha praticamente nada, agora o material deles ‘está no jeito’. É muito gratificante, uma felicidade enorme. Agora, imagina os corações deles como estão”, comemorou a terceirizada.

Em lágrimas, a mãe afirmou ter uma preocupação a menos com o recebimento do material escolar para os filhos.

“Era isso o que eu queria, fiquei muito feliz. Quero que Deus dê em dobro tudo o que fizeram pela minha família. Vou colocar cada um em minhas orações. Não conheço nenhum deles, mas vão ser recompensados. Espero que as autoridades olhem para a gente porque são pais e mães de famílias. Lutamos para sobreviver”, garantiu. 

PROGRAMA DE APRENDIZADO – O filho mais velho, que tinha expressado a vontade de ingressar no programa de estágio “Jovem Aprendiz”, comoveu a jornalista Nayra Bastos que decidiu ajudar da melhor forma.

“Vi o anúncio de vagas no programa. Entrei em contato com a mãe dele e pedi as informações para fazer o currículo. Achei que indicá-lo para um emprego seria bem mais eficiente do que mandar dinheiro uma única vez”, contou.