Cotidiano

SESAU diz não ter informado ao CIMI sobre assassinatos de indígenas

Relatório do Cimi afirmava que recebeu dados da Sesau constatando que Roraima teve 62 casos de homicídios de indígenas 

A Secretaria Estadual de Saúde desmentiu que tenha dado ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a informação de que 62 indígenas foram assassinados em 2018, em Roraima. Os dados constam no relatório “Violência contra os Povos Indígenas do Brasil”, e o Cimi informou que conseguiu as informações divulgadas com base na Lei de Acesso à Informação, junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), e através de consultas às secretarias estaduais de saúde de Roraima e dos estados da Bahia, do Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Paraná.

A Sesau afirmou para a Folha de Boa Vista que desconhece informações sobre taxa de homicídios envolvendo indígenas em Roraima.

Segundo a CGVS (Coordenação Geral de Vigilância em Saúde) não foi feito nenhum tipo de levantamento referente a homicídios em áreas indígenas pelo órgão. “Cabe esta atribuição à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), órgão vinculado ao Governo Federal”.

O relatório foi divulgado na tarde do dia 24, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília-DF, e os dados não permitem análises mais aprofundadas, visto que não trazem informações quanto à faixa etária das vítimas, ao povo ao qual pertencem ou às circunstâncias dos assassinatos. 

O documento aponta que o número de assassinatos de índios no país aumentou de 110, em 2017, para 135, em 2018, um crescimento de 22,7%. Os estados com mais registros em 2018 foram Roraima, onde teriam ocorrido, segundo o Cimi, 62 homicídios, e Mato Grosso do Sul, onde foram contabilizadas 38 mortes.

Consta ainda no relatório que a própria Sesai teria informado que os dados eram “preliminares” e haviam sido sistematizados até o dia 30 de setembro de 2018. As secretarias de saúde também teriam informado que os dados estão sujeitos a alterações. 

Em relação à mortalidade infantil – crianças de 0 a 5 anos – dos 591 casos registrados, 219 ocorreram no Amazonas, 76 em Roraima e 60 no Mato Grosso. O documento ressalta que, assim como os dados de assassinato, as informações da Sesai sobre os registros relativos a suicídio e mortalidade na infância são parciais e estão sujeitas a atualizações. 

Já nos casos divulgados e classificados como “violência contra a pessoa”, o levantamento listou ainda, em todo Brasil, 22 tentativas de assassinato, 18 homicídios culposos, 15 episódios de violência sexual, 17 casos de racismo e discriminação étnico-racial, 14 ameaças diversas, 11 situações de abuso de poder e oito ameaças de morte.

A Folha tentou contato com várias lideranças indígenas do Estado, do CIR, do Cimi, da Sesai, bem como a Diocese de Roraima, para saber informações mais detalhadas a respeito do documento, mas não obteve sucesso até o fechamento da matéria. 

A Delegacia-Geral de Homicídios também foi procurada para confirmar a veracidade dos números, mas disse que precisaria de tempo para analisar os dados estatísticos para poder confirmar, ou não, os dados.