Cotidiano

Servidores em greve cobram criação de comissão na ALE

Sindicatos dizem que greve já afeta economia roraimense, pela falta de dinheiro em circulação no comércio

A terça-feira, 23, foi agitada para os mais de 80 servidores que compareceram à Praça do Centro Cívico em mobilização que ocorreu no decorrer da manhã. Depois de manifestação na praça, os servidores se dirigiram à Assembleia Legislativa, cobrando um posicionamento dos deputados estaduais quanto ao atraso nos salários do funcionalismo público estadual.

Já, no plenário da Assembleia Legislativa, os servidores em greve cobraram a instalação de uma comissão de deputados estaduais para ajudar no processo de negociação com o Governo de Roraima pelo pagamento dos salários dos servidores que estão atrasados.

Com o fim da sessão, imposto pelo deputado Coronel Chagas (PRTB), que presidia a Mesa, um dos parlamentares da casa, deputado Jorge Everton (MDB), procurou as lideranças sindicais para reforçar a intenção de criar uma comissão para analisar a situação dos servidores. O parlamentar prometeu que encaminhará um ofício à Mesa Diretora da Casa solicitando a criação da comissão.

Parlamentar conversou com servidores em greve e prometeu criação de comissão (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo do Estado de Roraima (Sintraima), Francisco Figueira, todo o ato foi positivo para a classe, uma vez que idealizou a criação de uma comissão na Assembleia Legislativa e incentivou o Governo do Estado a buscar um novo diálogo com os servidores.

“O diálogo com o Governo vem sendo positivo. Alguns servidores já estão começando a receber salários atrasados, como é o caso de agentes penitenciários e funcionários da Sejuc [Secretaria de Justiça e Cidadania]. Mas ainda não pararemos com a greve, pois o trato é que sejam todos os servidores. A Sefaz [Secretaria da Fazenda] relatou que até quinta-feira, 24, os pagamentos estarão na conta, então manteremos [a greve] até lá”, contou.

Economia já sente impacto de greve, diz presidente do Sintraima

Segundo o presidente do Sintraima, Francisco Figueira, a economia roraimense já sente os impactos da greve dos servidores estaduais por conta do atraso no pagamento dos salários e o cenário poderá ser caótico em questão de dias. “O comércio já está sentindo os reflexos desse problema, uma vez que o poder de compra do servidor está comprometido. É possível que futuramente haja demissões, porque muitos não terão como manter funcionários para exercer certas atividades”, disse.

Outro prejuízo será na fiscalização agropecuária. “Esse impacto também pode acontecer no comércio de carnes, porque os fiscais agropecuários estão cruzando os braços, assim como os técnicos agropecuários. As barreiras podem ficar abertas, o Estado também pode ficar sem combustível, por conta da situação do posto do Jundiá que ainda não parou por questões de segurança”, salientou.

O vice-presidente do Sindicato dos Técnicos Agrícolas de Roraima (Sintag-RR), Jardel Brandão, afirmou que funcionários do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) estão com salários atrasados há dois meses. Em outras secretarias, a falta de pagamento já se estende por mais de um mês.

“Tanto o Iteraima quanto a Aderr (Agência de Defesa Agropecuária) e a Seapa (Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) estão paralisados, impossibilitando qualquer trabalho fiscal agropecuário, tais como liberação de títulos de terra e fiscalização de barreira sanitária contra a mosca da carambola e a prevenção de febre aftosa. Isso sem falar em exportação de carne e frutas, que já estão impedidas neste primeiro momento”, relatou.

Com a paralisação de agentes socioeducativos no Centro Socioeducativo (CSE), restam apenas três funcionários da unidade de internação de adolescentes em conflito com a lei. Isso implica na suspensão de aulas em escola interna, audiências e até mesmo visitas, para que haja a segurança dos servidores e educandos, devido brigas entre facções.

Segundo a agente penitenciária Dorinea Pereira, estes são impactos que mostram a importância dos serviços da categoria, assim como o seu pagamento em dia. “Começamos a mobilização por não conseguirmos uma previsão do Governo quanto ao pagamento de todos os servidores. É algo que somos obrigados a fazer por não termos condições de ir trabalhar se nosso pagamento já está comprometido e sem previsão de recebimento”, afirmou.

Governo reforça que não foi notificado sobre greve

Em nota, o Governo do Estado afirmou estar em diálogo com a categoria desde antes da confirmação do atraso de salário, informando a atual realidade econômica. “Para garantir o pagamento da folha de servidores estaduais, o Governo ingressou na Justiça e obteve liminar favorável, de forma que todo o recurso das contas do Governo sejam destinados para pagamento de salários, evitando descontos automáticos. E ainda tem buscado diálogo com os Poderes”, discorreu a nota.

Também destacou que a Lei 7783/89 (Lei da Greve) determina prazo entre 48 horas e 72 horas (para serviços e atividades essenciais) para que o sindicato oficializasse o ato de greve dos servidores públicos, decidido em assembleia geral e com ata reconhecida, o que até o momento não ocorreu. (P.B)