O servidor público Oscarino Anthero Filho denunciou à Polícia Federal (PF), ao Ministério Público de Roraima (MPRR) e ao Conselho Regional de Medicina (CRM-RR) um suposto erro na cirurgia ortopédica da mãe Maria da Conceição Bezerra, de 74 anos.
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Ele atribui à Medtrauma, responsável pela ala ortopédica do Hospital Geral de Roraima (HGR), a culpa pelo caso. Isso embora já tenha resolvido a situação com um médico de um hospital particular.
Do contrário, a idosa poderia ficar com a perna torta, sem ter como caminhar normalmente.
A empresa, sediada em Mato Grosso, tem contrato de R$ 37,1 milhões com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) até 23 de novembro de 2025.
O vínculo começou em 2022, quando a então secretária Cecília Lorenzon assinou contrato com valor inicial de R$ 30,2 milhões.
A PF, inclusive, investiga a Medtrauma por supostas fraudes licitatórias. Essa suspeita chegou a afastar Cecília do cargo em 2024.
O que aconteceu
No dia 4 de maio, Maria da Conceição Bezerra foi levada ao posto médico do Exército, em Boa Vista, após cair em casa, fraturar o fêmur esquerdo e bater a cabeça.
Em seguida, o Fundo de Saúde do Exército (Fusex) encaminhou a idosa para o HGR em vez de um hospital particular conveniado pelo plano de saúde dela.
No hospital público, exames descartaram danos no crânio de Maria, mas indicaram a necessidade de cirurgia para corrigir a fratura no fêmur – serviço de responsabilidade da Medtrauma.
Segundo Filho, o procedimento cirúrgico da mãe demorou cinco dias para ser realizado por falta de material hospitalar.
“Os médicos que operaram a minha mãe chegaram lá pra falar comigo e disseram que a cirurgia foi um sucesso”, relatou.
No entanto, um médico particular constatou a existência de um fragmento lateral de osso que deformou o joelho. “Seria impossível minha mãe caminhar”, diz o servidor.
O laudo pós-operatório indicou que, nesse tipo de fratura, a haste intramedular não seria o melhor tipo de implante. E que, caso fosse usada, deveria ter o complemento de uma placa, o que não foi feito.
Assim, o implante ideal seria uma placa lateral bloqueada para garantir mais estabilidade para esse tipo de fratura.
O documento ainda menciona que a paciente, ao colocar peso na perna, poderia agravar o quadro clínico.
“[O médico me disse que] os materiais que eles utilizaram foram equivocados, que se a minha mãe continuar dessa forma, ela vai ficar com a perna torta”, relatou Oscarino Anthero.
Dessa forma, o mesmo médico e uma médica do Exército recomendaram a correção urgente da cirurgia, considerando a idade da idosa e os riscos das orientações da equipe da Medtrauma.
Neste contexto, o servidor procurou a empresa, que formou uma junta médica para reiterar o acerto no procedimento.
O relatório médico da Medtrauma indicou que a fratura dela estava bem alinhada e que o material usado na fixação do joelho não apresentava falhas.
Por outro lado, constatou que a artrose avançada no joelho esquerdo era o motivo que agravava o desvio no joelho.
“Foi feita uma reabordagem em uma idosa, colocando ela em risco de vida”, pontuou o filho de Maria, que disse ter conseguido resolver o problema “com assistência e insistência”. “O Fusex dificultou o máximo, eles chegaram a propor enviar minha mãe para outro Estado, tendo uma clínica credenciada aqui em Roraima […]. Eu fui atrás de resolver a situação da minha mãe, mas hoje eu estou aqui para que nenhuma pessoa mais passe pelo que eu estou passando”.
Assim, segundo ele, o médico particular corrigiu a cirurgia com materiais metálicos que passaram a se adaptar bem ao osso, conforme análise do exame de raio-X após a correção.
Outro lado
A Sesau confirmou o recebimento da denúncia de familiares da paciente pela ouvidoria do HGR e prometeu aguardar o resultado da apuração por parte do Conselho de Ética Médica.
“Se comprovado erro de conduta médica, adotará as medidas administrativas pertinentes”, completou a pasta, em nota.
A Folha também pediu resposta da Medtrauma por e-mail, mas não recebeu retorno até a publicação da reportagem.
Sobre o direcionamento do Fusex, o Exército Brasileiro ainda não respondeu.