Cotidiano

Seminário abordará temáticas da água, resíduos sólidos e políticas ambientais

Muitas famílias sobrevivem da coleta e venda do lixo. Mas eles convivem diariamente com a insalubridade, falta de políticas públicas e gestão mais responsável.

O I Seminário do Fórum Estadual do Lixo, Cidadania Meio Ambiente e Saneamento, será promovido no próximo dia 20/03 e deve contar com as três instituições que agregam os catadores.

A abertura do evento ocorre às 13h30, no auditório Alexandre Borges no Campus Paricarana da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e abordará três eixos principais: Água, Meio Ambiente e Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos.

Discutir políticas públicas e encontrar soluções para banir o lixão, por exemplo, e direcionar os catadores à conscientização do empreendedorismo da coleta seletiva de resíduos sólidos, são com esses objetivos, entre muitos outros, que o Fórum do Lixo e Cidadania foi criado em 2013. Participam desse Fórum 20 instituições envolvendo entidades governamentais, não governamentais e de representação social.

A coordenadora do Fórum, Jucelia Rodrigues, também superintendente do Sistema OCB/RR (Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras em Roraima), defende a extinção dos lixões em todo o estado. Mais do que um discurso ambientalista sobre sustentabilidade e agressão ao Meio Ambiente, é preocupação constante com as pessoas que utilizam a venda dos resíduos sólidos recicláveis ou reutilizáveis para sobreviverem.

“Neste primeiro seminário temos três eixos: Água, Meio Ambiente e Coleta Seletiva. Que o lixão precisa acabar isso já é líquido e certo. Mas mais do que isso, nós do Fórum defendemos que seja feito de forma planejada para que sociedade não sofra. Com o fechamento não precisamos criar outro problema social desassistindo, por exemplo, o catador, a saúde e a água dos nossos igarapés. Há que se rever esse processo, criar mecanismos da coleta seletiva para indicar uma cadeia de soluções”, defendeu a presidente do Fórum do Lixo.

A ideia é conseguir, por meio de um processo planejado, envolver as gestões municipais de todo o estado, catadores, moradores dos bairros e empresas, afim de estudar a cadeia de processo do lixo e encontrar soluções necessárias com o processo de coleta seletiva e manejo adequado. Nesse processo a utilização do catador como agente de modificação ambiental e social, com foco no empreendedorismo seria a sugestão do Fórum para resolver os conflitos gerados com os lixões.

Histórias de vida – São muitas as histórias de vida de quem precisa do lixão para sobreviver. A maioria é triste. “Lá em cima”, como os próprios catadores definem a montanha aglomerada de décadas, a vida é mais cruel do que se pensa. Crianças, adolescente, jovens e adultos disputam espaço entre os entulhos e o mal cheiro. São dias esperando lixo de toda a natureza: garrafas Pet, plásticos, papelão, sucatas, latinhas, todo material descartado pelas residências, supermercados e lojas trazidos de caminhões, veículos menores. São fatos que se repetem nos 15 municípios de Roraima porque o fechamento dos lixões foi prorrogado até 2018.

A Janaína Nascimento, 34, começou a catar lixo aos 14 anos por não ter estudo suficiente. “Meu marido tava atrás de emprego na época, aí ele falou que a gente podia ganhar dinheiro para sobreviver nesse lixão atrás da usina de asfalto. Minha mãe me incentivou para ir ver se a gente ganhava dinheiro.

À época Janaína já tinha um bebê de um ano. Foram, construíram um barraco e, lá no lixão, moravam e trabalhavam. Sem oportunidades, foi lá que encontraram resposta para miséria, tanto trabalho suado, mas lhes rendia R$ 2 mil por mês. Ela contou que a família aproveitava tudo.

“Lá não tinha empatamento da agente remover nada. A gente vendia madeira, plástico, papelão, latinha, cobre tudo, tudo, tudo que dava de ser reaproveitado da reciclagem a gente aproveitava lá em cima”, relatou.

Cooperativa Unirenda

Janaína conta que um dos piores momentos da vida foi o fechamento temporário do lixão em Boa Vista, quando todos os catadores foram para o Bairro Nova Cidade. Lá a Prefeitura cedeu terreno e prometeu melhores condições de trabalho. Foi aí que nasceu a cooperativa Unirenda (Cooperativa dos Amigos Catadores e Resíduos Sólidos de Roraima). No início, com estrutura precária, com caminhão alugado para coleta do lixo.

“Mesmo procurando fazer a coisa certa éramos muito humilhados -‘Olha lá vem os fedorentos’ – (reclamou), mas a gente persistiu. Na época a nossa renda caiu…tinha vez que por mês tirar apenas R$ 30,00 a R$ 60,00 reais. Então aí foi o pior momento da gente quando foi o fechamento do lixão e abertura desse novo aterro sanitário, o que funcionou como outro lixão. Daí de novo veio a proibição né? ”, disse.

Segundo ela, a melhor fato que ocorreu até hoje foi o momento foi ver o lixão com outros olhos. “Lá era meu mundinho. Mas tudo mudou quando me informaram que tinham criado o fórum do lixo e cidadania com várias entidades. Pronto, o constrangimento que a gente falava do poder público que ia lá pressionar, acabou. Pensei que a gente não tinha direito, mas foi através do fórum que eu conheci o nosso direito. Tem lei que ampara a gente e tem outras pessoas aí a favor da gente né? ”, ressaltou.

Ideias construídas por muitas mãos – Participam do fórum várias intuições. São elas: Sistema OCB/RR, CAERR, MPE/RR, DVA/CEVS, SEED, Funasa, Sebrae, Unirenda, Vigilância Ambiental/SMSA, Funasa, DVA/CGVS, Eletronorte, Faculdade Estácio, SMGA/PMBV, Embrapa, Femahr, MPT, Conab, UERR, UFRR, Fecomércio, Associação Terra Viva, Associação Global e Coepe. E ainda recebe o apoio das empresas Forbrás, Rural Fértil, Garden Shopping, Eco Hotel e Sabão Glória.

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