Com os juros do cartão de crédito alcançando os 459,53% ao ano nas operadoras, os roraimenses têm mudado de hábitos e preferido comprar à vista. Para completar, 60% das pessoas do Estado estão com a renda comprometida por suas contas e 40% têm o nome negativado nos órgãos de proteção ao crédito, segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Boa Vista (CDL).
O presidente da CDL, Edson Freitas, não possui os números da queda das compras a crédito, mas disse que são significativos. Segundo ele, as famílias já vinham se endividando desde antes de 2015, estagnando atualmente em 58 milhões de pessoas inadimplentes no país. Mas fatores como o desarranjo econômico e político, a queda da produção industrial, e no caso de Roraima, a redução no repasse público fizeram com que a conta da população não fechasse.
“Por isso, as pessoas estão trocando o crédito pelas compras à vista, com descontos atrativos. Há mais pessoas com restrições para todas as operações envolvendo crédito, como financiamentos. Por mais que as lojas tenham lançado promoções de 12 vezes, os juros que elas oferecem ainda são de 20% ao ano. O cartão tem sido um vilão no endividamento familiar”, comenta.
DESCONTO – O subgerente de uma loja de departamentos, Gledson Costa, afirmou que tem aumentado o número de clientes com o dinheiro para comprar à vista. Há também quem dê uma parte em dinheiro e a outra parte no crédito, ou mesmo no boleto bancário. Segundo ele, o motivo é que eles não querem seus nomes nos órgãos de proteção ao crédito, ou então eles já estão com restrições. “O índice de inadimplência em Roraima aumentou muito e os clientes dos boletos e dos créditos priorizam as contas essenciais, deixando de pagar as nossas faturas”, explica. (NW)
Economista aconselha eliminar cartão de crédito
O economista Gilberto Hissa, perguntado sobre o que os consumidores podem fazer para ter menos dívidas no cartão de crédito, foi conciso na resposta. “Só tem um caminho: jogar fora o cartão. O segundo caminho é usá-lo e pagar toda a sua fatura. Se a pessoa não for pagá-la de uma única vez, deve jogar o cartão fora também”, aconselhou.
Segundo Hissa, os juros sobram para as pessoas sem controle do próprio consumo e são muito altos. É preciso aprender a não adquirir o que não é necessidade e o que não cabe na própria renda. “Não se deve comprar coisas que depois ficarão guardadas, só porque na hora se achou bonito”, disse.
Por isso, ele recomenda pagar sempre à vista, deixando para parcelar somente bens muito altos, como a casa própria. Ainda assim, eles precisam caber no próprio orçamento. Para ter dinheiro sempre, deve-se destinar uma parte do próprio salário para ser poupada, assim que se receber o pagamento. “Primeiro poupe, depois pague tudo à vista, e você nunca vai ter aborrecimentos, sendo uma pessoa financeiramente saudável”.
Consumidores dizem que têm controlado os gastos
No centro comercial de Boa Vista várias pessoas disseram que evitam usar o cartão de crédito. A autônoma Heidy Gardenha prefere usá-lo com os eletrodomésticos, pela comodidade em não andar com dinheiro. “Sai um pouco mais caro, mas é mais fácil. Mas não tenho dívidas, e faço orçamento e poupança de vez em quando. É um pouco difícil cumpri-los porque não tenho renda fixa”, frisou.
A comerciante Maria de Jesus também destina o crédito somente para eletrodomésticos, fazendo todas as outras compras no dinheiro. Ela afirmou que possui contas atrasadas, pois faz poupança e também orçamento para saber o que pode comprar no mês. “A pessoa deveria consultar antes o quanto ela ganha para, a partir disso, comprar. Se a compra vai ultrapassar esse valor, não é uma boa ideia”, aconselhou.
Esse é o motivo da vigilante Márcia Torres usar somente o dinheiro. “Com o cartão a gente vai se empolgando e depois se enche de dívidas para até o ano que vem”, disse. Ainda assim, ela está endividada com suas contas essenciais, e não faz poupança nem consegue cumprir um plano de gastos. “Eu até tento, mas acabo furando porque nunca dá, já que todo dia aumenta alguma coisa. Não é nem porque compro besteira, porque nem faço isso”, explicou.
Por isso, a professora e técnica em agropecuária Raquel de Jesus nunca nem teve cartão de crédito. “Não gosto, nunca quis. É uma coisa que te vicia em comprar mais, porque não precisa ter o dinheiro na hora, mas aumenta suas dívidas. Você nem precisa daquilo, mas compra, só porque tem um cartão”, acredita. Porém, ela disse ser difícil não ter por causa das facilidades em comprar parcelado, enquanto que ela raramente encontra a compra na modalidade do boleto. A sua saída é juntar dinheiro até ter o valor necessário.
“Eu vejo gente com dívidas absurdas. Eu faço orçamento e sempre busquei limitar meus gastos, pois tenho uma filha. Tem gente que já vai começar o ano que vem com dívida, fazendo mais uma para poder participar das festas de fim de ano. Nem meu marido tem mais cartão de crédito”, comentou. (NW)