Cotidiano

Roraimense é mais uma vítima na Venezuela

Seguidas mortes em decorrência de procedimentos estéticos realizados no país vizinho têm preocupado autoridades brasileiras

A roraimense Adelaide Silva foi a 2ª vítima, em menos de uma semana, de cirurgias plásticas realizadas na Venezuela. Ela morreu na noite de domingo, 18, no Município de Puerto Ordaz, Estado de Bolívar, após complicações decorrentes do procedimento realizado pelo médico Oscar Hurtato, que não teria especialização para este tipo de procedimento. A Folha tentou contato com a família da roraimense, mas não obteve retorno.

Na terça-feira, 13, a empresária paraense Dioneide Leite também morreu no mesmo município venezuelano, depois de ficar nove dias em coma devido a ter tido pulmão perfurado durante procedimento de redução de seios e laqueadura realizado pelo mesmo médico, Oscar Hurtato.

Informações extraoficiais, ainda não confirmadas, apontam que outra brasileira, ainda não identificada, também morreu nesta segunda-feira, 19, após ter tido complicações decorrentes da realização de uma cirurgia estética. A paciente teria apresentado queda de pressão e os médicos teriam dado a ela remédio para pressão alta.

Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) apontam crescente número de mortes em decorrência de cirurgias plásticas na Venezuela. Somente este ano, 13 mulheres perderam a vida após os procedimentos estéticos. O valor “mais em conta”, em comparação aos realizados no Brasil, é o principal atrativo para as mulheres brasileiras.

Especialista denuncia aliciamento de pacientes e até tráfico de órgãos

Em entrevista à Folha, o cirurgião plástico e delegado da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Márcio Arcoverde, denunciou diversas ilegalidades que ocorrem em cirurgias realizadas na Venezuela. “Eu tive a informação de que essa última paciente que morreu, no domingo, voltou sem os rins. Então há, sim, tráfico de órgãos, aliciamento de pacientes, evasão de divisas e complicações submodificadas”, afirmou.

Segundo ele, diversas pacientes ficam em complicações graves decorrentes de cirurgias no país vizinho. “Foram dois óbitos em um período de cinco dias. Existem mulheres em condições gravíssimas, que voltam sem umbigo, com necrose e trombose, além de deformidade nos seios. Ou seja, vende-se um sonho e compra-se um pesadelo”, disse.

Somente em 2015, o médico afirmou ter realizado 55 procedimentos de reparação em pacientes que fizeram cirurgia na Venezuela. “Em Roraima, temos vários casos de pacientes atendidos em postos de saúde, hospitais e clínicas, mesmo assim as mortes continuam acontecendo. Existem médicos de fora que vêm para o Brasil como turistas e trazem medicamentos para realizar consultas em pacientes, mas isso é crime”, denunciou.

O especialista reiterou que procedimentos cirúrgicos devem ser realizados no local de domicílio do paciente. “Não existem diferenças significativas entre o preço cobrado no Brasil e o cobrado na Venezuela. A diferença é na qualidade do atendimento, pois se surgir qualquer problema, o médico daqui vai estar de prontidão para atender. Na Venezuela, eles não têm mais nem papel higiênico”, frisou.

CRM faz alerta às mulheres

O Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR) informou que desde o ano de 2014 tem alertado sobre o perigo de realizar cirurgias plásticas na Venezuela. “Nesse mesmo ano foi realizada uma ação em parceria com a Polícia Federal, Ministério Público do Estado de Roraima, que resultou na detenção de uma médica venezuelana que realizava, sem autorização, consultas na periferia de Boa Vista. O CRM, embora seja um órgão de fiscalização, não tem poder de atuação no país vizinho”, disse.

“Alertamos, em particular às mulheres, que tenham muito cuidado ao irem para a Venezuela ou qualquer outro país a fim de realizarem cirurgias plásticas. O indicado é que realizem aqui mesmo, no Brasil, com um médico especialista e de qualificação reconhecida. Pois, se houver qualquer imprevisto, o próprio médico que realizou o procedimento poderá corrigir em tempo hábil, evitando assim sequelas irreversíveis e até mesmo a morte. Saúde não tem preço. O barato pode custar muito caro”, alertou a presidente do CRM-RR, Blenda Garcia. (L.G.C)