Estações de metrô e trem, além das paradas de ônibus ficaram cheias de pessoas tentando voltar para casa. (Foto:João Barros)
Estações de metrô e trem, além das paradas de ônibus ficaram cheias de pessoas tentando voltar para casa. (Foto:João Barros)

Desde a madrugada desta terça-feira, dia 28, até o início da noite, a cidade do Rio de Janeiro vivenciava o caos, devido a uma megaoperação das polícias estaduais nas comunidades que compreendem os complexos da Penha, do Alemão e que se alastrou até o complexo da Maré, na zona Norte da cidade. Quem mora na cidade sentiu na pele as consequências dos conflitos entre as forças policiais e o crime organizado. O objetivo, segundo o governo do Estado, era capturar lideranças e conter a expansão territorial do Comando Vermelho.

Batizada como “Operação Contenção”, até o momento resultou em 64 mortes, sendo quatro policiais, entre civis e militares, e 81 presos em cumprimento de mandado judicial,todos suspeitos de integrar a principal facção criminosa do Rio de Janeiro, além de 72 fuzis e uma quantidade significativa de drogas. Considerada a maior e mais letal operação em 15 anos, alterou a rotina até mesmo das escolas e repartições públicas localizadas na zona Sul, na zona Oeste e em Niterói. 

Em coletiva de imprensa, na tarde de hoje, o governador Claudio Castro (PL) informou que a operação extrapola os limites do Estado, o que significa que não deveria estar sozinho na “guerra” que não tem relação alguma com a segurança urbana, por isso cobrou a participação das forças armadas. “Essa é uma luta que já extrapolou toda a ideia de segurança pública, tudo aquilo que vem através do tráfico internacional de armas. Excedeu nossas competências. Já era para estar tendo um trabalho muito maior com as forças federais”, destacou.

O ministro da justiça, Ricardo Lewandowski, também em coletiva de imprensa, disse que não recebeu qualquer pedido de auxílio ou ajuda do governo do Rio de Janeiro. “Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro, enquanto ministro da Justiça e Segurança Pública, para esta operação, nem ontem, nem hoje, absolutamente nada”, enfatizou.

O professor e jornalista João Barros, que vive no Rio de Janeiro há seis anos, relatou como foi viver este dia enquanto morador da cidade. “Logo nas primeiras horas da manhã, já vimos que o trânsito estava mais intenso que o normal. As primeiras imagens chegaram e notamos que toda a zona Norte estava sitiada, impossibilitando que trabalhadores, estudantes e moradores da região pudessem se deslocar, principalmente porque mais de 100 linhas de ônibus foram paralisadas e os trens do Metrô e da Super Via estavam operando com lentidão e não chegavam há muitas áreas cobertas pelas linhas”, contou.

Com o passar do dia, segundo Barros, a situação piorou consideravelmente. “À medida em que o dia foi acabando e as pessoas precisavam retornar para casa, vimos ruas cheias de pedestres, porque não tinha ônibus disponível, os carros de aplicativo estavam com alta demanda e não aceitavam as corridas para a zona norte, as escolas estavam liberando os alunos mais cedo, as estações de metrô estavam tão cheias que não era possível passar a catraca. Eu tentei pegar o metrô hoje e não consegui. Fiz um vídeo que vou compartilhar com vocês, para terem ideia da dimensão do problema”.

Em alerta de risco “Nível 2”, a Prefeitura do Rio pede que os cidadãos não saiam de casa se não for absolutamente necessário. Tanto o comércio quanto as instituições de ensino da cidade do Rio de Janeiro estão analisando a possibilidade de não abrirem as portas nesta quarta-feira, dia 29, porque não há certeza de que os conflitos encerraram. “Sou professor no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, vinculado à Faetec (Fundação de Amparo à Escola Técnica), e parte dos alunos do nível superior, do ensino médio técnico e demais modalidades vivem na zona Norte e podem não comparecer à unidade de ensino para estudar. Operações dessa natureza altera a rotina de todo mundo”, completou João Barros.