Cotidiano

Roraima vira líder em assassinatos no país 

Somente este ano, já foram registrados mais de 140 homicídios e o estado tem 66,6 mortes para cada 100 mil hab, muito acima da média nacional

A guerra entre as facções que comandam o crime organizado brasileiro vem transformando e manchando de sangue o cenário da segurança pública em Roraima. O Estado que sofre com a migração venezuelana e o consequente aumento da criminalidade, também viu as taxas de homicídios triplicarem e passou a ser o primeiro do Norte a comandar o ranking da violência do país.

Conforme dados do 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roraima terminou 2018 com 348 crimes violentos letais intencionais, ou 66,6 mortes para cada 100 mil habitantes. A média nacional foi de 27,5 por 100 mil e a ONU considera epidêmicos valores acima de 10 por 100 mil. 

Neste ano de 2019, conforme levantamento feito pela reportagem nas páginas de polícia do jornal Folha de Boa Vista, foram registrados 146 homicídios, ou seja, a cada dois dias, uma pessoa é morta no estado. 

Uma das vítimas dessa onda de violência foi a estudante Carolina dos Santos Oliveira, de 18 anos, cujo corpo foi encontrado em junho terreno em um baldio no bairro São Francisco, área nobre da Capital, e até hoje o crime não foi solucionado.

A mãe da vítima, a professora Janismara Oliveira, contou que não tem informações sobre os criminosos nem sabe as razões de sua filha ter sido assassinada.

“Morri 70% no dia que vi o corpo da minha filha. E até hoje não tem resposta de nada. É só sofrimento, era minha única filha mulher e meu outro filho tem Síndrome de Down e não consegue compreender que a irmã se foi. Eles eram muito apegados e ela foi arrancada assim da gente. Eu sei que a minha filha não tem retorno, mas eu queria pelo menos saber o que foi que aconteceu e as razões dela ter sido morta. Na delegacia de homicídios dizem que não tem informação e uma das vezes que eu fui lá falaram que não tinham nem gasolina para trabalhar”, contou.

Outra vítima que sobreviveu após quase ter sido degolado por conta de uma rixa relacionada a futebol envolvendo um integrante de facção criminosa foi o jovem L.S, de 24 anos. Ele resolveu sair de Roraima após ter sido atacado por mais de 10 integrantes de facção criminosa e conta que viveu momentos de terror.

“Eu achei que era brincadeira e só quando me golpearam no pescoço e eu vi o sangue que percebi que iam me matar e fugi correndo. As pessoas que estavam no local chamaram a polícia, que chegou a tempo, graças a Deus. Mas nunca mais piso nesse estado.”

Conforme o Delegado Geral da Polícia Civil Herbert Amorim, apesar do aumento no registro de crimes a polícia tem trabalhado para combater o aumento da violência, apesar da falta de efetivo. 

“Todos os dias damos uma resposta imediata com relação a essas ações criminosas, mas o que acontece é que a sociedade cresceu, praticamente duplicou em Roraima, e a Polícia Civil ainda continua na mesma, com menos funcionários a cada dia que passa. Semana passada aposentou um delegado, essa semana já temos outro com atestado médico por incapacidade mental, outro delegado com problema na visão. Sem um novo concurso público a gente não tem condições de fazer nosso trabalho”.

Ao ser questionado sobre o levantamento, o Governador de Roraima, Antonio Denarium, não especificou ao certo um plano de ação para coibir os crimes do tipo. Ele destacou apenas os investimentos que já vêm sendo realizados por sua gestão.

“Autorizei vários investimentos para a área de segurança pública do estado logo que assumi o governo como interventor, em 2018”, lembrou.

Denarium disse que conseguimos mais de R$ 30 milhões em emendas parlamentares da bancada federal, recurso esse que será investido na Polícia Militar, Civil e Corpo de Bombeiros. 

“Nós vamos comprar 65 viaturas, 55 motocicletas, 70 automóveis pequenos, munição, fuzis e coletes balístico. Queremos equipar nossos policiais para que consigam realizar seus trabalhos com mais eficiência”, destacou.