Cotidiano

Roraima tem quase três apagões por mês

O estado é o único no Brasil que não está ligado ao Sistema Integrado Nacional (SIN)

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Enquanto o setor elétrico brasileiro discute um plano de privatização de hidrelétricas até 2019, com a abertura nesta semana de uma consulta pública pelo Ministério de Minas e Energia, o produtor rural Teotônio Vieira de Matos, dono de um laticínio em Cantá, município 100 quilômetros ao sul de Boa Vista, a capital de Roraima (RR), lamenta os apagões de até 84 horas que o impedem de fazer a ordenha de suas vacas.

É que Roraima é o único Estado brasileiro que não é ligado ao Sistema Integrado Nacional (SIN) de energia e vive com seus 515 mil habitantes sob risco dos cortes de luz ameaçado pela atual crise política e econômica que assola o país vizinho.

O governo brasileiro importa da Venezuela 85% da energia consumida em Roraima pagando R$ 146 milhões (maio de 2016 a maio/2017). O Estado ainda tem de queimar R$ 1 bilhão por ano em óleo diesel com termoelétricas para tentar garantir o abastecimento comercial e doméstico. Segundo dados da Empresa de Pesquisas de Energia (EPE), do Ministério de Minas e Energia (MME), Roraima registrou 36 apagões em 2016 e já teve 17 cortes em 2017.

O MME reconhece os blecautes, mas registra somente 13 apagões no ano, ante 17 do período de janeiro a junho de 2016. “Houve uma redução de 20% nos cortes”, informou o MME, explicando que as quedas demoravam em média 1h05 e agora têm duração (média) de 37 minutos. De acordo com o MME, entre 2015 e 2017, 90% das interrupções ocorreram na linha Brasil-Venezuela, sendo que em 2017 o linhão da barragem de El Guri foi responsável por 93% dos cortes. 

Pelos dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o tempo de duração das quedas de energia em Boa Vista, medido pelo indicador de qualidade DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora), é o dobro do limite para a região. E o índice FEC (Frequência Equivalente de Interrupções por Unidade Consumidora), ou seja, a quantidade de cortes no sistema, também supera o limite tolerado. Entre maio de 2016 e maio deste ano, o consumidor de Boa Vista ficou 27 horas sem luz em 54 cortes de energia.

 

Outro indicador da baixa qualidade do fornecimento de energia no Estado é o ranking IASC, da própria Aneel. Ele mede a satisfação do consumidor com o serviço. Entre 101 empresas fornecedoras de energia no País, em 2016, a Eletronorte de Roraima, administradora da energia entregue pela estatal venezuelana Corpoelec, responsável pela geração na usina do Rio Caroni, ocupou a posição 85 do ranking de satisfação com nota 58,61. A primeira colocada foi a Cermissões, com nota 89,38.

 

Indígenas exigem compensações para liberar linhão

 

Ainda de acordo com a avaliação de quem paga a conta de luz, Roraima também é dona da empresa que está em pior situação na lista, a CERR, que ficou na posição 101, com apenas 22 pontos. De tão ruim, a CERR teve a concessão cassada pela Aneel no ano passado e foi extinta em dezembro.

Com apenas uma das fases energizada na propriedade, o que o impede de usar equipamentos e o obriga a também ligar o gerador a diesel, o dono do laticínio contou que a crise de energia é um dos principais entraves à produção rural.

O contrato de fornecimento de energia da Venezuela para o Brasil, assinado no governo de Fernando Henrique Cardoso, tem duração prevista de 20 anos, terminando, portanto, em 2021. O acordo prevê a transmissão de até 230 KW para abastecer Boa Vista, mas desde 2016 Roraima recebe 130 KW. Segundo o MME, o Brasil paga uma tarifa de R$ 150 por MWh da energia venezuelana.

Para atender à demanda, o jeito é torrar óleo diesel em termoelétricas, encarecendo o processo em até três vezes. Procurada para comentar o contrato de abastecimento via linhão de El Guri, a embaixada da Venezuela não respondeu aos pedidos de entrevista.

Barrado por índios, linhão de Tucuruí não sai do papel

Enquanto Roraima queima dinheiro e diesel para gerar luz, um projeto que livraria o Estado do risco diário de apagão permanece na gaveta em Brasília. É a construção de um linhão duplo ligando Manaus a Boa Vista, licitado em 2011, que estenderia a luz da barragem de Tucuruí para a capital e o interior de Estado.

O projeto aguarda a licença de uso de solo em área indígena na reserva dos waimiri atroari, na divisa entre Roraima e Amazonas. De acordo com técnicos do governo, dois anos dos atuais gastos com termoelétricas cobririam com folga o custo da interligação. O empreendimento permitiria, inclusive, uma futura reversão da atual relação comercial de compra de energia da Venezuela, cujo sistema também passou, há dois anos, por uma crise hídrica e redução de produção energética na barragem do Rio Caroni.

O projeto da Transnorte deveria promover até 3,2 mil empregos diretos. O Ibama liberou a obra. Mas ela parou na Funai porque, dos 715 quilômetros, 125  são na reserva. A Aneel prevê que a linha inicie a operação comercial em setembro de 2019.

Com informações do Estadão

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