Cotidiano

Roraima registra apenas 17% de vacinação contra HPV

Dados da Sesau apontam que há uma diminuição drástica na procura pela imunização entre os jovens; mitos e falta de conversas sobre tema contribuem para números baixos

A propagação de informações falsas e a restrição de debates sobre prevenção impactam diretamente no aumento de infecções sexualmente transmissíveis (IST) entre a população. Um exemplo desse cenário é a baixa cobertura e procura pela vacina contra o Papiloma Vírus Humano (HPV), que atingiu somente 17,69% em todo o Estado em 2018.

Conforme dados do Sistema do Núcleo Estadual do Programa Nacional de Imunizações (NEPNI), no ano passado o município de Bonfim registrou a maior cobertura vacinal, com 202,53%, seguido de Pacaraima, com 53,32%. São Luiz teve a cobertura mais baixa, apenas 1,17%. Em comparação a 2017, os números não são muito distantes, quando houve 16,89% de cobertura em Roraima.

Entre as principais dificuldades encontradas para que a cobertura vacinal seja maior, está o número de doses aplicadas, sendo três no período de dois a seis meses depois da primeira. O público-alvo, formado por jovens de 10 a 19 anos, representa uma articulação com os pais e as unidades de ensino para que o tema seja mais bem abordado.

“Isso nem sempre é fácil porque isso mexe com a questão da sexualidade. Existe um mito de que vacinar vai incentivar a relação sexual. Tem as crenças e mitos que atrapalham. Precisamos mudar as estratégias de alcance dessa população porque a gente realmente tem um número baixo”, disse Valdirene Oliveira, gerente do Núcleo de IST da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).

Ela afirmou que os principais registros de HPV em Roraima estão entre mulheres de 15 a 39 anos, apontando que houve notificação de 120 casos somente em meninas no ano de 2018. Foram 61 notificações da doença em homens no mesmo período. Para ela, quanto mais cedo tiver a vacinação dos jovens, menores serão os casos confirmados da doença futuramente.

O HPV, além da aparição de verrugas genitais em homens e mulheres, pode evoluir para o câncer de colo do útero, um dos principais tipos em todo o Brasil e que mais mata mulheres. Com o retorno das aulas, o Ministério da Saúde recomendou o reforço da vacinação nos Estados, colocando as doses à disposição nas unidades básicas de saúde (UBS) de todo o País.

Valdirene apontou que quando há a primeira dose, chega a registrar 88% do público atingido, mas que na segunda o número cai para 50%. Ela destacou que isso ocorre seja por esquecimento ou por falta de conversas com os adolescentes sobre a importância da continuidade da vacinação.

“Hoje, temos o espaço nas escolas, mas nem sempre conseguimos articular para fazer a vacina lá”, lamentou.

A Coordenadoria-Geral de Vigilância em Saúde (CGSV) é responsável pelo acompanhamento das ações que são feitas pelos municípios para a vacinação, que tem estratégias de acordo com cada gestão municipal.  Para que haja uma aceitação melhor sobre a importância da vacina, a gerente acredita que o debate dentro das escolas incentiva os alunos a conversarem com os pais e responsáveis sobre o tema.

PREVENÇÃO – “É uma IST que tem prevenção, que é a vacina. Sabemos que as mulheres são as mais atingidas com o câncer de colo do útero e outras infecções. A orientação é que esses pais reflitam que a vacina não incentiva os jovens a iniciarem a vida sexual. Ela é muito mais efetiva antes do início da vida sexual porque já na primeira relação pode ter infecção”, destacou Valdirene.

O diretor da Vigilância Epidemiológica, Lincoln Valença, garantiu que não há desabastecimento nos estoques de vacinas contra o HPV. Segundo ele, o acesso às unidades de saúde que ofertam a vacina é responsabilidade de saúde pública para todos.

“Precisamos entender que são anos de estudo que ocasionaram a criação de uma vacina que vai impedir o filho de ter um problema futuro”, frisou.

Valença enfatizou que há também casos de infecção da doença que não envolvem o ato sexual.

“Qualquer doença que pode ser prevenida, precisamos fazer isso. Uma coisa não dialoga com a outra. O que discutimos é que temos como prevenir um problema que mata mulheres”, alertou.

NÚMEROS – Os números baixos da cobertura vacinal também foram questionados e podem ser explicados pela falta de atualização nos sites da Vigilância Epidemiológica, o que causa diminuição nos dados e nos recursos destinados ao Estado, conforme disse o diretor. Ele ressaltou ainda que haverá uma intensificação no pedido para que as secretarias de Saúde municipais façam constantemente as atualizações sobre a vacinação.

Prefeitura não informa ações para vacinação contra HPV

A equipe de reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista para saber sobre a cobertura vacinal na capital e se as vacinas estão disponíveis nos postos de saúde. O espaço também estava reservado para informações das ações que são feitas pelo município para o combate ao HPV.

Contudo, conforme tem ocorrido frequentemente nos últimos meses, a Prefeitura de Boa Vista não deu resposta até o fechamento desta edição. (A.P.L)