Cotidiano

Roraima Energia só tem diesel para manter serviço por três dias

Roraima Energia deveria ter a quantidade de diesel para abastecer usinas térmicas por ao menos oito dias, porém, a quantidade atual é para três dias

Segundo as regras estabelecidas pelo Ministério de Minas e Energia (MME), a Roraima Energia deveria ter a quantidade suficiente de óleo diesel para abastecer as usinas térmicas por ao menos oito dias. No entanto, a informação atual é que a concessionária tem combustível suficiente para apenas três dias de abastecimento, ou seja, menos da metade do acordo com o Governo Federal.

Isso significa que, se o óleo diesel que abastece as usinas térmicas do Estado não for reposto, em 72 horas, pode ocorrer um colapso total do sistema. A informação é de acordo com reportagem do Estadão nesta quarta-feira, 25.

As regras estabelecidas pelo MME são de acordo com uma portaria de 2017. Porém, o relato é que há meses esse volume não é atingido. O Estadão apurou que, na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) enviou um ofício ao presidente da concessionária Roraima Energia, Orsine Rufino de Oliveira, para determinar que a empresa responsável pelo abastecimento faça a recomposição do volume de estoque de combustível.

“Essa obrigação não tem sido cumprida pela empresa uma vez que o estoque de combustível tem se mantido em um volume correspondente a cerca de 3,5 dias de operação das usinas termoelétricas que atendem o Sistema de Boa Vista”, afirma a Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Geração da Aneel. “Tendo em vista que tal situação resulta em uma redução da segurança no abastecimento de energia elétrica a Roraima, determinamos a imediata recomposição do estoque para o volume correspondente a 8 dias de operação das usinas termelétricas.”

Entenda o motivo da dependência da queima de óleo diesel

A dependência total da queima de óleo diesel para iluminar Roraima deve-se hoje a dois fatores. O primeiro é que o Estado é o único do País que ainda não foi conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), rede de transmissão que permitiria deslocar a geração de energia de outras partes do País para alimentar Roraima.

O segundo é que, no início de 2019, o Estado deixou de importar energia da vizinha Venezuela. Até então, cerca de 80% do consumo de energia de Roraima vivia da geração de hidrelétricas da estatal venezuelana Corpoelec. A entrega dessa geração, porém, que sempre foi precária, já estava completamente insustentável, com o agravamento da crise no governo liderado por Nicolás Maduro. Com o acirramento dos ânimos com o governo de Jair Bolsonaro, o contrato foi rompido de vez.

Isso fez com que Roraima passasse a depender, de um dia para o outro, de suas próprias usinas térmicas movidas a óleo diesel, uma energia mais cara e poluente. Em vez de funcionarem parcialmente para suprir a demanda, o que é esperado em casos de geração térmica, essas plantas começaram a funcionar de forma integral, o que também é mais um risco para a segurança no abastecimento.

Roraima Energia (Foto: Arquivo FolhaBV)

Roraima Energia diz que enfrenta dificuldades para aquisição de diesel

A Roraima Energia informou que as dificuldades para aquisição de combustível estão sendo tratadas com o Ministério de Minas e Energia e a Aneel e que “depende de deliberações do poder concedente para garantir a neutralidade entre custos e receitas para produção de energia, tendo em vista que foi determinado à distribuidora a responsabilidade sobre a geração total de energia para o Estado, diante da interrupção da interligação Brasil-Venezuela e a não conclusão das obras de conexão ao sistema integrado”.

“Neste sentido, a Aneel já tem atuado no andamento de processos e liberação de recursos represados. A distribuidora por sua vez tem trabalhado no tratamento e melhoria dos processos da concessão de distribuição, com redução de perdas, inadimplência e custos operacionais. Este cenário favorece a recomposição da autonomia determinada pelo MME, que já foi iniciada”, informou.

O ministério informou que, após avaliação da situação em Roraima ser analisada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), pediu à Aneel que centralizasse “esforços junto à distribuidora de energia elétrica para a manutenção da autonomia média de armazenamento de combustível” em ao menos oito dias, como determina sua própria portaria.

O pedido foi feito após reunião em 7 de outubro, “considerando a redução observada no estoque de combustíveis para geração das usinas termoelétricas” do sistema de Roraima. “Nos últimos dias, observou-se aumento do estoque de combustível, estando atualmente da ordem de 3,7 dias”, declarou o MME, por meio de nota enviada à reportagem. Não é o que mostram, porém, os dados da concessionária Roraima Energia.

Em documento enviado à Aneel na semana passada, a empresa apresenta uma tabela detalhada sobre a autonomia de seus tanques de combustível verificada entre os dias 1.º e 13 de novembro. A planilha mostra, por exemplo, que, entre os dias 3 e 5, o volume armazenado correspondia a níveis de 4 dias de autonomia, tendo caído desde então.

*Fonte: Estadão