Cotidiano

Relatório denuncia descarte irregular de lixo hospitalar no aterro sanitário

Documento apontou que resíduos estão sendo coletados, transportados e enviados ao aterro sanitário do município sem qualquer tratamento

Um relatório produzido por ambientalistas denunciou que o Município de Boa Vista está realizando o descarte irregular de resíduos hospitalares sem qualquer tipo de tratamento no lixão de Boa Vista, localizado na BR-174 Sul, na zona rural da Capital.

O documento obtido pela Folha, contendo imagens, aponta que a Prefeitura vem cometendo um grave crime ambiental que poderá resultar em graves impactos ao meio ambiente e à saúde da população, e citou a total falta de gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde que estão sendo coletados, transportados e enviados ao aterro sanitário do município sem qualquer tratamento, em desconformidade com as leis.

Conforme a denúncia, os resíduos hospitalares que são descartados no lixão são provenientes da atenção à saúde de pessoas e de animais, com suspeita ou certeza de contaminação biológica, como bolsas de sangue rejeitadas por contaminação ou por má conservação, além de kits de linhas arteriais, filtros de ar e gases aspirados de área contaminada.

Produtos químicos e materiais perfurocortantes (agulhas, estiletes, instrumentos de corte) que, ao serem descartados, tornam-se resíduos de serviços de saúde, também são misturados ao lixo comum no aterro sanitário.

O relatório destacou que, ao cometer o crime ambiental, o município vem construindo uma verdadeira “bomba relógio”, juntando em um mesmo local, diariamente, milhares de variedades de agentes patológicos, como vírus e bactérias.

Conforme o relatório, os resíduos depositados no lixão estão em contato com pessoas que estão diariamente no aterro (catadores e até moradores) e propícios a receber por meio do ar, ou mesmo dos efluentes daquelas operações, agentes causadores de doenças, vírus e bactérias.

Além disso, citou que uma quantidade considerável de urubus encontra-se presente no aterro, animais que podem trabalhar como vetores destas doenças, levando diretamente à população e ao meio ambiente agentes nocivos, passíveis de contaminação.

O documento destacou uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de abril de 1999, que obriga a necessidade do tratamento dos resíduos de saúde, considerando as características destes resíduos e o grau de periculosidade. A resolução também trata do gerenciamento das atividades de segregação, acondicionamento, identificação, transporte, armazenamento, tratamento e disposição final dos resíduos.

O relatório ressaltou, porém, que não há evidências de qualquer gerenciamento destas etapas no que tange os resíduos hospitalares e tratamento para eliminação dos agentes patológicos.

LEI – A Lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, obriga os municípios a adotarem os procedimentos operacionais mínimos para tratamento de seus resíduos. O não cumprimento pode acarretar em sanções legais, previstas na Legislação Sanitária Federal (Lei. 6.437/77), além das sanções civis e penais.

Catadores confirmam descarte irregular

Após receber a denúncia, a Folha foi até o lixão de Boa Vista, na manhã de ontem. Segundo os catadores que trabalham no local, até meses atrás, os resíduos hospitalares eram descartados separadamente do lixo comum, o que deixou de acontecer. “O lixo hospitalar era separado e tinha um cercado. Eles jogavam e já enterravam logo, mas hoje tem muitas pessoas que catam lixo hospitalar lá no meio”, afirmou o catador Alex da Silva.

Segundo ele, outros catadores já chegaram a se furar com seringas descartadas no local. “É perigoso, porque tem pessoas, inclusive crianças, que já furaram a mão com uma seringa. Falaram que iriam mandar equipamentos de proteção para nós, como bota e luva, mas trabalhamos descalços e desprotegidos aqui”, disse.

Outra catadora, Cláudia Souza, contou que caminhões têm misturado o lixo hospitalar com o lixo comum no aterro. “Eu vi os caminhões jogando o lixo hospitalar misturado com o lixo comum, sem nenhum tipo de tratamento. Eu já catei lixo hospitalar, seringas, luvas e medicamentos. Eles jogam próximo da entrada e é perigoso, principalmente para as crianças que catam aqui”, frisou.

PREFEITURA – Em nota, a Prefeitura de Boa Vista esclareceu que a denúncia não procede, e afirmou que todos os resíduos de serviços de saúde são descartados na célula específica chamada de “célula séptica”. “Após cada descarga de resíduo é feita a cobertura de imediato. Em nenhuma hipótese esses resíduos são descartados na célula de resíduos domésticos (lixo comum)”, pontuou. (L.G.C)

Compartilhe via WhatsApp.
Compartilhe via Facebook.
Compartilhe via Threads.
Compartilhe via Telegram.
Compartilhe via Linkedin.