Cotidiano

Projeto social atende migrantes que chegam ao Brasil sem ter o que comer

Na íngreme rua Venezuela, de domingo a domingo, a cena é a mesma: os migrantes se acomodam como podem, sentados, deitados ou em pé nas calçadas da via, para aguardar por cada refeição do dia

Um projeto social em Pacaraima é responsável pela refeição diária de centenas de venezuelanos que chegam ao Brasil sem condições para comprar comida.

Na íngreme rua Venezuela, de domingo a domingo, a cena é a mesma: os migrantes se acomodam como podem, sentados, deitados ou em pé nas calçadas da via, para aguardar por cada refeição do dia: café da manhã, almoço e jantar.

Homens e mulheres são separados por filas, onde cada pessoa é marcada no braço com senha. A cada dez minutos, um grupo de 40 migrantes é chamado para entrar no templo da Igreja Pentecostal Deus é Amor para um pequeno momento de orações e cânticos. Ao final, cada migrante recebe uma marmita.

O culto é ministrado em “portunhol”. “A vitória é ‘nostra’ pelo sangue de Cristo”, prega o pastor acreano Davyd Wilson, líder da denominação, para um público formado por adultos e crianças – algumas delas, inclusive, se emocionam com a pregação.

O projeto se chama Fundação Reviver, desenvolvido nacionalmente há quase 30 anos pela igreja. Na fronteira do Brasil com a Venezuela, a iniciativa existe desde novembro passado e atende, diariamente, mais de 300 migrantes, entre eles, Carmen Trujillo, de 31 anos.

Desempregada e mãe solteira de três crianças (nove, 12 e 14 anos), ela percorreu com eles, de carona, quase 600 quilômetros, de San Felix, próximo ao litoral venezuelano, a Santa Elena de Uairén, na fronteira com o Brasil.

Foi na divisa que, há um mês, Carmen decidiu caminhar com as crianças e entrou no lado brasileiro por uma serra. “Vim ao Brasil buscar um futuro para os meus filhos, trabalhar. Porque na Venezuela eu não poderia conseguir um trabalho fixo. Eu trabalhava com artesanato, decoração. Não tinha demanda todos os dias”, contou.

Ela lamentou a situação do País natal e disse acreditar que vai encontrar uma vida melhor no Brasil, onde está em processo de regularização. “Vou lutar por um futuro melhor. Quero que meus filhos sejam pessoas melhores”, disse.