Cerca de 1.500 quilos de tambaqui foram despescados na manhã de ontem, 08, na Comunidade do Guariba, localizada no Município de Amajari, ao Norte do Estado. Esta é a segunda vez que a comunidade realiza o procedimento para comercialização do pescado na Capital. A piscicultura faz parte de um projeto de sustentabilidade e desenvolvimento econômico nas comunidades indígenas de Roraima.
A criação dos peixes é direcionada tanto para a subsistência alimentar da comunidade como para a comercialização do excedente produzido. Para o consumo próprio, cerca de 50 quilos de peixe são distribuídos por semana entre as 86 famílias. Mais de 400 pessoas recebem a proteína na comunidade. O coordenador da piscicultura, Aderaldo Rodrigues, explicou que trabalha junto a vinte pessoas, quase diariamente, nos três tanques que contém tambaqui.
Com exceção do domingo, o trabalho realizado é resumido em controlar o PH da água, dar ração aos animais e assegurar que os alevinos não sejam mortos por bichos. Para tanto, os envolvidos criaram uma escala rotativa que se inicia às 4h. O objetivo do escalado é nadar nu no tanque para espantar qualquer ameaça aos alevinos e oxigenar a água.
Para Rodrigues, o projeto é de suma importância não só para os indígenas, envolvidos diretamente, como também ao Estado, por receber e consumir peixe de qualidade. “Nós abraçamos o projeto e temos a reponsabilidade de cuidar dele. Hoje estamos colhendo o futuro e vamos prosseguir com isso”, ressaltou. Para acompanhar o processo, o coordenador convidou a escola da comunidade.
Segundo ele, a finalidade é que os estudantes vejam e saibam, na prática, como é realizado o trabalho da piscicultura na comunidade. A professora da Escola Estadual Tuxaua Manoel Horácio, Heleniza Tavares, informou que os alunos aprendem sobre a beleza do trabalho em sala. “Tive a oportunidade de ver os tanques de cima e não acreditei que temos isso na nossa comunidade. Só podemos agradecer”, disse.
Para a segunda tuxaua Marilza Mota, a economia da comunidade foi favorecida com o recebimento do projeto, tendo em vista que pessoas que não tinham como se sustentar já recebem parte do que vendem. Apesar de ter adentrado na Guariba após a implantação dos tanques, como membro da nova gestão ela quer continuar com o projeto. “Sabemos que isso ajuda nas ações da própria comunidade e fora dela”, pontuou.
Conforme relato de Rodrigues, o dinheiro recebido pelos peixes vai para o caixa e, do total, 40% é destinado à continuidade do projeto. Pensando à frente, ele informou que a partir de agora não haverá apenas criação de tambaqui, haverá também de matrinxã, aracu e curimatã para ampliar o negócio.
Destaca-se que os envolvidos nos tanques receberam instrução técnica durante a implantação do projeto, uma vez que, após dois anos de criação, a comunidade deverá arcar com as despesas necessárias para que o negócio continue funcionando, como comprar ração, contratar técnicos para assistência dos tanques e controlar o PH da água. Os 40% destinados ao projeto fazem parte da instrução.
PESAGEM – Após a retirada dos tanques, os peixes são levados na carroceria de um trator da comunidade para a pesagem. Divididos em sacos, os peixes são pesados de dez em dez. Em média, um saco com dez peixes pesa de 20 a 25 quilos, dependendo do tamanho. Cada peixe é vendido em torno de R$ 5,70.
PROJETO – A despesca realizada é o resultado do projeto de piscicultura que está em implantação nas comunidades indígenas do município do Amajari, sob emenda parlamentar do deputado federal Édio Lopes. Guariba foi a primeira a receber o plano, em 2015, com a presença do Ministro da Pesca, Helder Barbalho, que hoje ocupa o cargo de Ministro da Integração Nacional.
Na comunidade foram implantados sete tanques. Seis possuem a dimensão de 3.000 m² e um, de 6.000 m². As demais comunidades beneficiadas com o projeto no Amajari são: Três Corações, Ouro, Araçá, Mangueira e Aningal. Além do município, o projeto também está sendo desenvolvido em Normandia e São João da Baliza, ao Norte e Sul de Roraima, especificamente.
O valor total do convênio é de R$ 1,4 milhão, dos quais já foram liberados pouco mais de R$ 900 mil. Em breve, a prefeitura do Amajari receberá a última parcela, que é de quase R$ 500 mil. “As comunidades devem ser envolvidas. Não adianta haver o elo entre o deputado, prefeitura e técnico se a parte principal não agir”, frisou. (A.G.G)