Cotidiano

Profissionais da Saúde criticam remanejamento de leitos de Covid no HGR

Os profissionais consideram que ainda é cedo para adoção de medidas como esta

Profissionais de Saúde que atuam no Hospital Geral de Roraima (HGR) criticaram o anúncio do remanejamento de 24 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) exclusivos da Covid-19 para atender outras patologias, antes do fim da pandemia. A medida foi anunciada na última sexta-feira, 06.

Um médico que preferiu não se identificar contestou a informação de que houve remanejamento de leitos para Covid. Segundo ele, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) teria fechado os leitos.

“Não foram remanejados e sim fechados. Não houve remanejamento. Hoje estamos com ordem de acabar com a UTI 3, onde são 10 leitos. E na UTI do Grande Trauma, mais 10 leitos foram extintos”, relatou.

O profissional cita a baixa adesão à vacinação em Roraima – hoje com 18,95% da população adulta totalmente imunizada – e o iminente avanço de novas variantes da Covid-19, como a Delta, entre os fatores para a necessidade de manter os leitos de UTI.

“Estamos ainda no meio da pandemia, com adesão de vacinação baixa no estado, principalmente em relação aos jovens. O Governo do Estado tirou 20 leitos de UTI, sendo que ainda há alto número de pessoas internadas na unidade […] Não sabemos de que forma essa nova variante é lesiva ao sistema. Ao invés de o governo manter os leitos mesmo em baixa, eles fecham com a simples justificativa que os casos estão diminuindo”, disse.

Um profissional de outra área da Saúde, que também trabalha no HGR, considera “cedo” a diminuição na oferta de leitos de UTI para Covid na unidade, chamada de “remanejamento” pelo governo de Roraima.

“Acho cedo para fazer o que eles estão fazendo, mas realmente caiu muito os casos no hospital. Mas a julgar por janeiro, o aumento é muito rápido quando vem outra onda. E ao que tudo indica, ainda teremos pelo menos mais uma onda certa, da variante Delta e da Epsilon”, pontuou.

Na sexta-feira (6), o secretário adjunto de Saúde, Alexandre Salomão, disse que as patologias não-Covid já “dominam numericamente o nosso cenário epidemiológico atual”, sem apresentar dados para reforçar sua própria afirmação.

NOTA CRM-RR – De acordo com o Conselho Regional de Medicina, esta é uma decisão de inteira responsabilidade da Gestão, baseando-se em dados epidemiológicos e pareceres da equipe técnica responsável.

O papel do Conselho é de fiscalização permanente, como ocorre continuamente, lutando sempre pela assistência adequada aos pacientes e por condições dignas de trabalho aos profissionais de saúde.

GOVERNO – O Governo do Estado se manifestou através da seguinte nota:

A Secretaria de Saúde informa que não houve fechamento de leitos no HGR (Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento), mas sim remanejamento de leitos, devido ao atual cenário da pandemia, em que as internações de casos graves por covid-19 apresentam redução, estando em torno de 30%, ao passo que a entrada de pacientes acometidos por outras patologias vem crescendo de forma significativa, resultando na média de 70% para a atual demanda não covid-19 no HGR.

 A secretaria esclarece que está sendo feita a reorganização do fluxo de trabalho no HGR para que todas as demandas covid e não covid sejam atendidas, uma vez que os boletins epidemiológicos apontam a diminuição da taxa de ocupação por casos graves de covid, enquanto a dinâmica de controle das demandas gerais mostra considerável aumento no volume de internações por outras doenças.

 As mudanças incluem o remanejamento de leitos da UTI 3 para outro espaço, uma vez que é necessário liberar a área antiga para o acesso/passagem ao anexo do HGR.

É preciso reforçar que não existe demanda de UTI covid maior do que o quantitativo de leitos ofertados atualmente no Hospital. Na contrapartida o volume de urgência e emergência relacionadas às outras patologias tem aumentado de forma significativa nas últimas semanas. Nesta segunda-feira o HGR possui 38 pacientes com COVID internados e 120 pacientes internados por outras doenças, ou seja, há três vezes mais pacientes vítimas de outras patologias do que pela covid, na rede estadual e credenciada.

Vale ressaltar que todos os casos graves para covid-19 continuam sendo atendidos no HGR e aqueles casos leves em que houver critério de transferência serão acompanhados no Hospital Estadual de Retaguarda Covid-19, o qual tem capacidade para 120 leitos clínicos.

O Estado de Roraima está trabalhando para que a população tenha um atendimento digno. Nesse sentido estão sendo adotadas medidas a curto e médio prazo, o que inclui a utilização de leitos da rede particular, o que possibilita a disponibilidade de mais leitos para atender as demandas, ou seja, todas as medidas estão em curso para que nenhum paciente fique sem atendimento.

Por fim, a Secretaria reitera que o HGR tem passado por um processo contínuo de reestruturação com ações de revitalização na estrutura física, incluindo as instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias. O foco da gestão é promover as mudanças necessárias para que a Unidade tenha condições de oferecer um atendimento digno para a população roraimense.