A maioria dos alimentos agrícolas que fazem parte da mesa do boa-vistense não é de produção local. Conforme dados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), de janeiro a julho deste ano, itens como cebola, tomate, banana e fécula, que é uma farinha extraída de raízes ou grãos ricos em amido, tiveram mais de 100 mil quilos importados cada um.
Para a presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), Maria Alves, a principal razão para a importação dos produtos é a ausência de políticas públicas voltadas à agricultura familiar em Roraima. Ela complementou que o Programa de Desenvolvimento Sustentável, Geração de Empregos e Renda de Roraima (Progredirr) só contempla o investimento ao agronegócio, enquanto o agricultor familiar fica desassistido.
O principal produto importado durante o primeiro semestre foi a fécula, com o total de 753.030 quilos; seguido do tomate, com 579.990 quilos; banana, com 396.452 quilos; cebola, com 362.260 quilos; e da laranja, com 180.447 quilos. A maçã, que não possui produção no Estado, teve o total de 109.618 quilos. Maria ressaltou o caso das plantações de banana que, com a seca do ano passado, foram perdidas em razão das queimadas.
Apesar disso, ela avalia a falta de políticas públicas como principal motivo. “A Feira do Produtor não é feira do produtor rural, é do atravessador. O produtor está na vicinal produzindo, mas quando chega aqui para vender, o atravessador compra tudo por um preço bem mais baixo do que vende, é um superfaturamento em cima do consumidor”, explicou a presidente.
Ela ressaltou que quem sustenta a mesa do brasileiro é a agricultura familiar. “Porém, estamos com as mãos amarradas pela falta de incentivo”, disse. Segundo Maria, em 2012 e 2013, diversos maquinários foram enviados para a agricultura familiar de Roraima, para consertar uma estrada, uma ponte ou até tapar um buraco, mas isso não acontece. “Os fazendeiros usam as máquinas e os produtores rurais estão desassistidos, porque os políticos não administram”, frisou.
O comerciante Gerson Mendes, que trabalha há 13 anos na Feira do Produtor, no bairro São Vicente, zona Sul, é uma das pessoas que compra os produtos de outros estados, como Mato Grosso, Rondônia e Pará. Apesar de vender produtos que são produzidos em Roraima, ele destacou a preferência pelo produto importado. “Eles têm mais resistência”, observou.
MIGRAÇÃO – Outro fator que, segundo Maria Alves, implica na importação é a migração da população da zona rural para a Capital. Por não ter incentivo do município que reside ou do Estado, o agricultor vê em Boa Vista a chance de uma qualidade de vida melhor. Segundo ela, em época de eleição, diversos políticos afirmam que vão ajudar e tudo vai ficar bem, mas quando a eleição termina não existe mais ninguém.
Além disso, os problemas da educação também implicam na escolha da migração. “Tem escola, mas não tem professor. Se tem professor, não tem transporte para levar o aluno à escola, isso tudo afeta essas famílias”, pontuou. “Contudo, quando chegam à cidade, as famílias ficam sem ter o que comer, os filhos caem nas drogas e a família fica sem ter o que fazer, porque a roça, o trabalho, ficou. O sítio está esperando incentivo, um projeto, para que possam produzir nas terras, e isso não acontece aqui”.
Governo do Estado diz que vem fomentando o setor produtivo
A Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) informou que uma das prioridades do Governo do Estado é o fomento ao setor produtivo e que, desde janeiro de 2015, o Executivo estadual vem trabalhando para que o setor se desenvolva em Roraima.
Conforme a nota, o homem do campo em Roraima conta com 35 Casas do Produtor Rural, presentes nas sedes dos municípios e nas principais vilas. Neste espaço, os produtores têm acesso aos serviços da pasta, como apoio técnico, distribuição de calcário – que já chegou ultrapassou a marca de 2 mil toneladas – e emissão da Declaração de Aptidão ao Pronaf, que permite adesão às políticas públicas voltadas para o setor.
“O agricultor que demonstra interesse em desenvolver uma atividade procura a CPR mais próxima de sua região e solicita a visita de um técnico agrícola que, por sua vez, o auxilia na elaboração de um projeto. Com o documento em mãos, o trabalhador rural pode conseguir financiamento em instituições financeiras como o Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Agência de Fomento do Estado de Roraima (Aferr)”, diz a nota.
A Seapa informou que, no ano de 2015, foram liberados cerca de R$ 20 milhões para o desenvolvimento do setor. Já neste ano, em pouco mais de seis meses já foram liberados aproximadamente R$ 2 milhões. Além disso, a Seapa frisou que também desenvolve o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que compra alimentos produzidos pela agricultura familiar, com dispensa de licitação, que são distribuídos para o reforço da alimentação escolar, a exemplo.
Frisou que, atualmente, mais de 900 produtores em todo o Estado são atendidos e cada um pode fornecer até R$ 6,5 mil em produtos por ano. “O atendimento ao homem do campo visa o desenvolvimento econômico, social e sustentável de Roraima”, informou.
A Seapa afirmou que cerca de 90% da mandioca produzida em Roraima é de responsabilidade da agricultura familiar. Em 2015, foram produzidas 86 mil toneladas da raiz. A estimativa para este ano é encerrar a produção com 133 mil toneladas, isso na mesma quantidade de terra do ano anterior. “Esse aumento foi possível devido à tecnologia implantada em algumas regiões e ao fornecimento de insumos e ao apoio técnico prestado aos produtores pela Seapa”, frisou.
Conforme a nota, o governo também é pioneiro na produção familiar da soja. O plantio, feito em uma área de 515 hectares, foi iniciado no mês de maio e é administrado por 24 produtores, com produtividade total de 1,5 mil toneladas. Um dos insumos utilizados é o calcário. Somente para o programa Soja Familiar foram distribuídas mais de 570 toneladas. (A.G.G)