Cotidiano

Populares desaprovam pagamento de aluguel para famílias venezuelanas

A partir de setembro, venezuelanos que vivem nas ruas em Boa Vista terão direito a aluguel e alimentação fornecidos pelo Governo Federal

A Folha saiu às ruas, na manhã de ontem, 25, para saber a opinião da população quanto às medidas para auxiliar os venezuelanos por meio do programa Aluguel Solidário. Roraimenses e até mesmo alguns venezuelanos não aprovaram a medida.

Para o radialista Marcos Pereira, a ajuda poderia ser dada de outra forma. “Na atual situação em que a gente se encontra com a crise econômica não dá para fazer. Tem a obrigação de dar ajuda, mas não dessa forma. Deveria se montar um abrigo ou alojamento. Se for para ajudar, é só ir aos bairros mais pobres que tem muita gente precisando”, disse.

A turismóloga venezuelana Graide Garrido de Castro também não concordou com o auxílio aos conterrâneos. “Eu não concordo, mesmo sendo venezuelana. Isso vai tirar dos que não têm para dar para eles. Existem brasileiros sem emprego. Quem não quer morar de graça e ter comida de graça? É um benefício que poderia ser dado ao povo brasileiro de baixa renda”, destacou.

O taxista Daniel Avelar, que mora de aluguel, disse que jamais conseguiu ajuda do poder público para as despesas da casa. “Nem eu que moro de aluguel tenho esse benefício. Primeiro tem que arrumar a casa para depois botar gente dentro. Enquanto estiver assim não vai para frente”, opinou.

O vendedor Alex Aguiar ironizou e afirmou que pretende se naturalizar venezuelano para obter o benefício. “Acho que tem que cuidar é dos brasileiros. Os venezuelanos têm que ser cuidados pelo presidente de lá. Tendo o que comer e onde morar até eu quero, vou me naturalizar venezuelano para ganhar merenda e aluguel”.

PROGRAMA – A partir do dia 12 de setembro, centenas de venezuelanos que vivem em situação de rua em Boa Vista terão direito a aluguel e alimentação fornecidos pelo Governo Federal. A proposta integra o plano de trabalho apresentado pela Prefeitura como solução para a problemática de migração desordenada de venezuelanos em Roraima.

A ideia é fornecer aluguel solidário pelo período de seis meses para milhares de venezuelanos não índios que estão em situação de rua. Os custos, que não foram revelados pelo município, ainda incluiriam a alimentação dos estrangeiros. Os gastos serão subsidiados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), que irá repassar o valor dos aluguéis entre R$ 700,00 e R$ 1.200,00 às imobiliárias que concederão residências a famílias de até sete pessoas pelo período temporário. Os indígenas venezuelanos não estariam inclusos porque, segundo o Município, não trabalham.

PROTESTO – O presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais, Antônio Nicoletti, propôs que a população fosse às ruas para manifestar contra o auxílio moradia e alimentação aos venezuelanos. “Sou humanitário e acho que devemos enfrentar esse problema ajudando sim os venezuelanos, mas não dessa forma. O correto seria alojá-los provisoriamente em ginásios com estrutura de alojamentos e refeição assim como é feito quando ocorre acidentes naturais como enchentes nas cidades brasileiras”, sugeriu.

Ele fez questionamentos sobre essa ajuda. “Se para os brasileiros isso não é feito mesmo tendo moradia fixa, por que dar uma esperança enganosa aos venezuelanos de que estarão num país dos sonhos onde não existe corrupção, desemprego, crise econômica? Será uma jogada política em ano pré-eleitoral? ”, questionou.

Brasileiros com crianças vivem no lixão e não têm onde morar, diz conselheira

O anúncio do auxílio aluguel e alimentação aos venezuelanos também não agradou entidades que trabalham no combate à exploração infantil, como o Conselho Tutelar.

Segundo a conselheira Andreza Ferreira, a instituição fez uma visita recente ao Aterro Sanitário de Boa Vista, no trecho sul da BR-174, e constatou que mais de 40 famílias com crianças vivem de forma degradante no local sem ter o que comer e nem onde morar.

“As famílias que necessitam de assistência do município não recebem. Não conseguimos nem cesta básica para essas famílias direito. Como vamos pagar aluguel sendo que nem os nossos têm? As famílias estão morando no lixão porque não têm moradia, porque não conseguem nem doação de casas e nem aluguel social”, disse.

Da visita dos conselheiros ao lixão foi produzido um relatório que será entregue aos órgãos competentes. “Os órgãos de proteção brigam há tempos para que sejam retiradas de lá. Além da insalubridade da vivência das pessoas ali, ainda têm tráfico de drogas, exploração infantil, abuso sexual, alcoolismo. Isso não é visto pelas autoridades. Precisamos tomar providências quanto a esse abuso proposto pela Prefeitura”, afirmou. (L.G.C)

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