A Polícia Federal em Roraima deflagrou às 6h, desta quinta-feira, 7, a operação Knossos, em Boa Vista. A ação investiga em inquérito policial a prática de crimes ambientais pela Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer) e gestores. Estão sendo cumpridos ainda mandados de busca e apreensão em 34 endereços investigados.
Dentre a operação, foi usado para auxílio de informações da Polícia Federal arquivos de matérias jornalísticas veiculadas aqui na Folhaweb, jornal que já denunciou a prática de poluição nos rios de Boa Vista por diversas vezes. Relembre algumas das notícias aqui.
A operação investigou o despejo de esgoto não tratado ou insuficientemente tratado nas águas do Rio Branco e seus afluentes, contaminação da flora local, na Floresta Nacional de Roraima e na fauna protegida em compromissos internacionais assumidos pelo país. Há ainda indícios de reflexos na qualidade da água que é servida à população de Boa Vista.
Durante a investigação, feita ano passado e este ano, foram flagrados e materializados despejos de efluentes sem tratamento nos rios. Os extravasamentos de efluentes foram identificados em Estações Elevatórias de Esgoto da cidade e até mesmo na Estação de Tratamento de Água.
Em uma das coletas de amostra de água no Rio Branco, feita ano passado, a análise laboratorial revelou uma quantidade de coliformes fecais cerca de duas vezes maior que o valor máximo tolerado pela legislação ambiental, o que torna a água do Rio Branco, nos pontos coletados, imprópria para a balneabilidade.
A Polícia Federal informou que “o problema é público e notório, os despejos de esgoto no Rio Branco e igarapés indignam a população do estado. O descaso para com o meio ambiente tem gerado a poluição dos rios e igarapés em ritmo acelerado”.
Constatou-se que muitos dos despejos de esgoto ocorrem antes do ponto de captação da água que posteriormente é distribuída pela Caer para as residências da população de Boa Vista, o que pode causar sérios problemas de saúde na população.
A Polícia Federal revelou ainda que “a Caer tem uma longa tradição no descumprimento da legislação ambiental. Somente em multas administrativas realizadas por órgãos ambientais a empresa já foi autuada em mais de 9.5000.000”.
KNOSSOS
O nome da operação remete a Knossos (1700 a. C.), sítio arqueológico europeu localizado na Grécia, onde é possível constatar a existência de um sistema organizado de canalização de água limpa e de esgotos no século XVIII a.C.
A operação tem três objetivos, a coleta de novas amostras de água e de esgoto com o intuito de fortalecer a materialidade dos crimes investigados; a realização de perícias sobre a Estação de Tratamento de Água, Estação de Tratamento de Esgoto e Estações Elevatórias de Esgoto com o intuito de avaliar possíveis deficiências na estrutura, avaliação do desempenho do sistema e o não cumprimento de normas técnicas e normas da legislação ambiental; a realização de busca e apreensão nas sedes da empresa investigada com o intuito de arrecadar documentos, relatórios de inconformidades e problemas operacionais, comunicação de ocorrências relacionadas aos despejos, pedido de providências “engavetados” e relatórios de automonitoramento. Os documentos coletados demonstrarão omissão de providências para sanar os problemas.
Os mandados foram deferidos pela Justiça Federal em Roraima, as provas coletadas pelas equipes serão analisadas, as amostras de água e esgoto serão periciadas em laboratório no município de Campinas no Estado de São Paulo e o inquérito policial será concluído após o resultado das análises, das perícias e dos interrogatórios dos responsáveis.
O Governo do Estado se pronunciará sobre o caso em coletiva nesta manhã. Mais informações a qualquer momento aqui na Folhaweb.