Cotidiano

Plantas alimentícias não convencionais que são opção para cardápio

Facilmente confundidas com ervas daninhas, podem conter valor nutritivo superior a alimentos já consumidos pela população

Caruru, azedinha, malva, arruda, maxixe-do-reino e hibisco. Já ouviu falar em alguma dessas plantas? Elas se encaixam na categoria de Plantas Alimentícias não Convencionais, as PANCS, que tem ganhado espaço na agricultura familiar em Boa Vista e levado alimentação nutritiva à mesa do boavistense. Por meio do projeto ‘Quintais Sustentáveis’ do pesquisador da Embrapa Rafael Porto, e o ‘Projeto Educar’, idealizado pela Casa do Timóteo, 70 famílias têm espalhado novos hábitos pela cidade ao dividir conhecimento sobre as plantas e comercializá-las em feirinhas de eventos pela cidade.

Fáceis de ser cultivadas e ricas em valores nutricionais que podem ser maiores do que os alimentos tradicionais já encontrados na mesa da população, as PANCS também têm sido referência medicinal muito antes dos atuais pesquisadores descobrirem sua importância. 

A dona de casa Fátima Oliveira, 50 anos, é uma das pessoas que faz uso das plantas e, de acordo com ela, foram os avós que a ensinaram os benefícios à saúde com o uso da malva, por exemplo. “Misturo algumas folhas no álcool e passo em alguns pontos quando sinto dor ou faço chás, o alívio é quase instantâneo. Fui ensinada desde criança que algumas dessas plantas possuem valor medicinal e para mim funcionam”, explicou.

Marilene Trindade, 54 anos, possui um quintal com várias espécies de PANCS e comercializa algumas para a comunidade em feirinhas organizadas pelos projetos que participa. “Recebi mudas de arruda, hortelã, malva e outras espécies para plantar e em pouco tempo já estavam grandes. Aprendi por meio de palestra o valor nutricional de algumas delas e ensino o que aprendi. Por mês, faturo até R$ 180 reais com a venda das plantas o que contribui para complementar minha renda”.

Marilene também disse que possui clientes fixos que após o uso das PANCS sempre voltam por comprovarem a eficácia no uso. “Muitas pessoas pedem para que eu separe algumas plantas porque aprenderam sobre o uso no preparo de receitas e banhos medicinais”, explicou.

Agrônoma elabora pesquisa para divulgar importância das Pancs

Raimeyre Nobre é engenheira Agrônoma e elaborou uma dissertação sobre as Plantas Alimentícias Não Tradicionais. A pesquisadora enxergou a importância de divulgar o valor principalmente nutricional das plantas já que são fáceis de ser cultivadas, podendo ser encontradas facilmente nos quintais de Boa Vista.

“Meu objetivo é incluir as PANCS no Programa Nacional de Alimentação (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos. Sei que não irão faltar no mercado, o que vai garantir a compra de produtores e o alimento chegará principalmente na mesa das escolas. Em minha pesquisa descobri que o Cariru, PANC que predomina na região amazônica, tem importante papel para erradicar a desnutrição na África e possui mais vitamina C que a laranja, por exemplo” 

Nutricionista diz que é preciso criar o hábito e dar valor às Pancs

A nutricionista Flávia Amaro explicou que as plantas alimentícias não convencionais parecem muito com mato, mas garante que são alimentos utilizados sem medo na alimentação diária agregando muito mais sabor e valores nutricionais nos pratos preparados.

“Embora o uso não seja tão comum e facilmente confundida com ervas daninhas, pode ser usada sem problema como tempero, preparação de chás, produção de geleias e até biscoitos. Açafrão-da-terra, por exemplo, é rica em vitamina A, vitamina C e ácido fólico. Já a hibisco, as folhas podem ser usadas para sucos e a taioba, hortaliça com alto teor de complexo B, cálcio e potássio pode ser usada para molhos”

Para a nutricionista é necessário educar a população quanto ao uso até que se torne comum vê-las na mesa do boavistense e outros brasileiros. “A rúcula já foi considerada um mato e hoje é um dos vegetais mais presentes na nossa culinária. Um alimento considerado PANC hoje, pode ser bem aceito amanhã, basta a criação de um hábito”, concluiu.