Cotidiano

Órgãos públicos sequer dispõem de dados sobre pessoas vivendo na rua

Se o número de pessoas perambulando pela cidade aumenta, por outro lado não se vê o poder público preocupado com a situação

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O número de moradores de rua que circulam em locais movimentados, como supermercados, praças, portas de bancos e casas lotéricas, tem crescido nos últimos meses na Capital. Contudo, essa realidade, que é visível a toda a sociedade, parece ser invisível às autoridades, pois os órgãos ligados ao setor não possuem um mapeamento exato para identificar quem são essas pessoas e quantas são.

O Governo do Estado e a Prefeitura de Boa Vista não têm qualquer dado sobre essas pessoas. A ausência de planejamentos sociais vem permitindo a ampliação do problema, que pode ser visto principalmente nas praças da Capital. Em alguns casos, são viciados em drogas que ficam perambulando na cidade. Em outros, são pessoas que vieram de outros estados ou de países vizinhos em busca de melhores condições de vida.

Esse é o caso do pernambucano Sebastião Barbosa de Lima, de 47 anos, um dos inúmeros moradores de rua que veio para Roraima em busca de oportunidade, mas acabou desassistido pelo poder público. Há sete anos no Estado, ele veio para o extremo Norte Brasileiro após ter ouvido histórias sobre o garimpo local.

Ao chegar ao Estado, resolveu não ir embora por ter considerado a Capital acolhedora. Entretanto, a atual condição do homem, que disse nunca ter recebido uma oportunidade de emprego formal, está se desfazendo da imagem que teve ao chegar aqui.

Sebastião Lima relatou ter trabalhado durante a maior parte do tempo em que vive em Roraima na região Sul, principalmente com a plantação de banana. Mas, com a devastação em razão das queimadas, veio para a Capital em busca de outro tipo de emprego, porém, sem sucesso. “Não existe apoio para quem está desempregado, morando nas ruas, que é o meu caso e o caso de muitos outros”, disse.

Ele afirmou não ter contato com os familiares desde a vinda para cá e que a maioria das pessoas que saíram das suas casas, assim como ele, tinham o objetivo de uma melhor condição. “Nunca tive a chance de arrumar um emprego e hoje eu vivo sozinho, escolhendo se almoço ou janto, descarregando ônibus e caminhão, quando tem”, lamentou. (A.G.G)

Coordenador diz que há descaso das autoridades

Conforme o coordenador da Casa do Pai, JR Lessa, entidade que atua na recuperação de dependentes químicos, existe um descaso das autoridades com a situação de pessoas que perambulam pelas ruas da Capital, frisando que a situação se agravou recentemente em razão da crise da Venezuela.

Ele afirmou que existe um grande número de pessoas que moram nas ruas por questões financeiras e, principalmente, por conta do vício do álcool e outras drogas. Para ele, é preciso um posicionamento das autoridades competentes, em especial da Prefeitura, por não existir uma política pública voltada para o atendimento dos moradores de rua.

O coordenador disse que o número tende a crescer com os venezuelanos, mas não descarta a quantidade dos brasileiros que já havia antes desse momento de crise no país vizinho. “Além dos dependentes, vemos pessoas que têm transtorno mental que também estão na rua. E qual é o atendimento disponível?”, indagou.

Segundo Lessa, as pessoas que estão na rua sofreram algum tipo de discriminação social ou familiar para estarem nesta condição, e que ainda assim não há uma equipe, nem do Estado, nem da Prefeitura, que se dirija ao público para verificar as condições de saúde. Ele informou que o atual contexto social está virando uma questão epidêmica, sem uma política pública direcionada.

CAPS – De acordo com Lessa, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da cidade têm feito o atendimento, mas não busca solução. Conforme relato do coordenador, a pessoa que vai ao CAPS e pede o atendimento médico ou psicológico recebe isso, mas depois não possui um acompanhamento para retornar à vida.

Para ele, é preciso um direcionamento ou uma “Casa Dia”, onde a pessoa possa ter uma morada momentânea a fim de que, então, ele caia na realidade de que precisa localizar a família e que possa ser reencaminhado aos ambientes familiar e social. “Existem profissionais que hoje estão na rua, como mecânicos, jardineiros e até professor, talvez por uma desilusão”, relatou.

Ele acredita que se houvesse uma política para a situação os resultados seriam satisfatórios aos moradores, para a sociedade e para os familiares, que muitas vezes sofrem com as condições do parente. (A.G.G)

Prefeitura culpa imigração

Por nota, a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) informou que as pessoas que estão pelas ruas da cidade são oriundas dos países vizinhos e que o problema é de legalização da permanência no Brasil. “Toda e qualquer pessoa que possua sua situação regular no Brasil pode receber todos os benefícios, e isso já vem sendo feito pela Prefeitura de Boa Vista por meio da Secretaria de Gestão Social, que aloca os mesmos nos programas sociais”, disse.

Conforme a nota, as ações sociais desenvolvidas são realizadas principalmente quando existe o risco social, como a presença de crianças e idosos que não tenham condições de saúde ou alguma anormalidade, além de denúncia. A prefeitura disse ter consciência do momento vivido pela Venezuela, mas que os recursos disponíveis têm como primeiro e principal beneficiário a população de Boa Vista.

“A imigração desordenada e sem controle pode causar impactos diretos em vários setores da economia e comprometer a empregabilidade das pessoas que aqui vivem. A prefeitura disponibiliza sua Central 156 para que sejam feitas denúncias ou mesmo sugestões para que possamos ajudar ainda mais a minimizar essa problemática”, frisou.

Governo do Estado afirma que responsabilidade é da Prefeitura

O Governo do Estado também enviou nota sobre o assunto. A Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) afirma que a responsabilidade pelo acompanhamento e atuação junto aos moradores de rua do Município de Boa Vista é da Prefeitura.

Ressaltou que o município já foi contemplado com o cofinanciamento federal para implantação do Serviço de Acolhimento Para População De Rua, Centro POP. “Obteve a aprovação do Conselho Municipal de Assistência Social, sendo publicado no Diário Oficial do Município de 30 de maio de 2012, porém não fez o aceite para a respectiva implantação”, diz a nota. (A.G.G)

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