As 15 famílias que vivem da produção artesanal de tijolos na Vila Vintém, localizada à margem esquerda do Rio Branco no município do Cantá, tiveram que abandonar o local neste final de semana por conta da cheia do Rio Branco. Com a intensificação das chuvas, o nível do rio não para de subir e já apresentava 7,76 metros até o final da tarde de ontem, 2.
Além de terem que abandonar suas casas, a única fonte de renda com a produção artesanal de tijolos está prejudicada e só deve retomar após o mês de setembro, segundo previsão do oleiro Miguel Gomes, mais conhecido como “Fininho”, morador há mais de vinte anos do local. “O rio começou a encher de repente e pouco conseguimos salvar. Mais de 30 milheiros ficaram para trás e só foi possível trazer para margem oito milheiros. Após vender esta produção, não terei outra fonte de renda até o período de estiagem”, comentou.
Da mesma forma, o oleiro José da Silva teve que retirar seus familiares às pressas e tentar salvar parte da produção que já estava pronta para ser comercializada, mas pouco conseguiu salvar. Ele conta com a ajuda de amigos para realizar o transporte de barco dos tijolos armazenados em um local que já ameaça ficar submerso.
“A água veio em uma velocidade espantosa, perdemos rancho, roupas e conseguimos salvar pouca coisa. Resido neste local há mais de 31 anos e esta é a primeira vez em que presencio duas enchentes seguidas. Em 2017, ainda foi possível nos organizar e conseguir salvar uma quantidade maior de móveis e tijolos para serem comercializados. Semanalmente nossa produção era de cinco milheiros e agora vamos ter que esperar um bom tempo para retomar nossa atividade”, disse.
O oleiro Lindomar Alves dos Santos também não conseguiu salvar nada. “Nos pegou de surpresa. Estava trabalhando pela manhã e a tarde não tinha mais condições de entrar em casa. Deixei tudo pra trás”, relatou o oleiro, que produz uma média de 10 milheiros por semana.
Ele aguardava para finalizar 12 milheiros quando começou a chover forte no final de semana e rapidamente as residências próximas foram inundando. “Durante todo o período do inverno, vou ficar com minha família na Vila Nova, no município do Cantá. Lá estamos em segurança e, com a ajuda dos demais familiares e amigos, vamos superar este momento de dificuldade”, relatou.
Prefeitura e Governo mobilizam ajuda para famílias desabrigadas
As famílias que residem no local e não contam com apoio enquanto durar a inundação deverão ser assistidas pela Prefeitura do Cantá e pelo Governo do Estado. O secretário de Finanças do Cantá, Sérgio Rangel, informou que ano passado o Município fez uma parceria com a Defesa Civil do Estado para ajudar na retirada dos moradores do local em decorrência também do inverno rigoroso.
Este ano, segundo Sérgio, existe resistência das famílias, que preferem abrigo em Boa Vista. “Em nenhum momento nos omitimos em ajudar os oleiros e seus familiares. Já fomos até contatados pela Defesa Civil do Estado para saber quais medidas serão tomadas em parceria e ainda esta semana os trabalhos serão iniciados”, reforçou.
Ele acrescentou que todos os anos são feitas recomendações para a saída dos moradores, mas eles resistem. “Vamos definir os abrigos e as cestas básicas para as famílias que serão atendidas. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para assistir de forma emergencial as famílias que necessitarem de apoio”, destacou.
GOVERNO – A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDC), do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR), informou que desde o início do inverno intensificou as ações de resposta em consequência das chuvas em todo o Estado.
Além de realizar o monitoramento diário das condições meteorológicas e do nível do Rio Branco, a Defesa Civil mantém um efetivo de sobreaviso para realizar vistorias in loco nas áreas críticas na capital e no interior, bem como atuar de forma emergencial. Apesar de não haver registro de desabrigados em decorrência do período chuvoso, a CEPDC já dispõe de locais com infraestrutura que podem ser usados em caso de eventual necessidade. O ginásio da Escola Estadual Treze de Setembro está passando por melhorias para acomodar possíveis desabrigados na área da olaria. (R.G)