Uma oficina de Serviço Social sobre a atuação de assistentes sociais com os povos indígenas foi realizada nos dias 1º e 2 de agosto, na Universidade Federal de Roraima (UFRR). A atividade, promovida pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e pelo Conselho Regional de Serviço Social de Roraima (CRESS-RR), contou com a participação de indígenas assistentes sociais, além de representantes das gestões e da base dos CRESS de todo o país.
Também participaram integrantes da Articulação Brasileira Serviço Social e Povos Indígenas, do Grupo de Pesquisa Wayrakuna e da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).
A oficina teve início na sexta-feira, 1º de agosto, com uma acolhida realizada por indígenas assistentes sociais de diferentes povos, que construíram um mural com símbolos representando o Serviço Social e a luta indígena em todo o Brasil.
Na mesa de abertura, a presidenta do CRESS-RR, Laurinete Silva, destacou a relevância de Roraima sediar, pela primeira vez, uma atividade nacional do Conjunto. “Somos o último regional a ser criado, ainda em processo de consolidação, em um estado que também sofre com a exclusão socioterritorial dos povos indígenas e com a emergência nacional dos povos Yanomami”, enfatizou.
Diálogo sobre povos indígenas
A mesa de debates foi composta por Elizângela Pankararu (Apoinme) e Raquel Pataxó (Articulação), que fizeram uma análise de conjuntura da questão indígena, com ênfase na dimensão étnica. Eliz Pankararu apresentou dados atualizados que evidenciam como a população indígena ainda enfrenta violações de direitos, racismo e exclusão das políticas públicas.
“Com base em dados recentes, como o Censo de 2022, destaca-se a significativa presença indígena em áreas urbanas e fora das terras oficialmente delimitadas, o que exige do Serviço Social um olhar atento e comprometido com a diversidade e com a luta contra o apagamento desses povos”, afirmou.
Já Raquel Pataxó chamou atenção para o conservadorismo e os preconceitos que ainda reverberam dentro do Serviço Social, afetando diretamente tanto os profissionais indígenas quanto os povos atendidos. “Precisamos de profissionais que reconheçam nossa identidade indígena e nossa história”, reforçou.
Ela também destacou a importância da formação profissional e como isso pode impactar o atendimento à população indígena. “Estamos separando um tempo para conviver e vivenciar o cotidiano desses povos? Isso deve ser construído diariamente.”
Trabalhos em grupo e propostas para novas ações
Na manhã do dia 2 de agosto, os participantes foram divididos em quatro grupos de trabalho, com foco em diferentes áreas de atuação com os povos indígenas:
- Grupo 1: Saúde e educação
- Grupo 2: Previdência social e assistência social
- Grupo 3: Migrações e refúgio no contexto urbano
- Grupo 4: Racismo, identidade, terra e território
Os grupos discutiram situações concretas de atendimento, a estrutura dos serviços, legislações e desafios. Entre os principais questionamentos estiveram: que tipos de violações de direitos e resistências indígenas são identificados? Quais são as condições de acesso às políticas sociais nos municípios? Quais as barreiras enfrentadas para efetivar o acesso a direitos?
Ficou evidente que o Serviço Social dispõe de um arcabouço teórico-metodológico e de um compromisso ético-político adequado para atuar junto aos povos indígenas. No entanto, é necessário construir instrumentos de trabalho que considerem as especificidades culturais e experiências desses povos.
A síntese dos debates em grupo servirá de base para novas ações do CFESS voltadas à orientação da categoria sobre a atuação com povos indígenas.
Ao final da oficina, os participantes entoaram o grito de luta: “Demarcação já”, reforçando uma das principais reivindicações dos povos indígenas.