Cotidiano

Na cidade, indígenas usam artesanato para empreender e manter tradição

Indígenas de várias etnias se unem na produção de artesanato para manter as raízes e obter renda extra

“Um dia me disseram que um bom vendedor vende uma coisa por dia, então sou vendedora”, disse a indígena Wapixana, Camila Maria dos Santos, de 70 anos. Ela é uma das integrantes da Associação Cultural Indígena de Roraima (Kapoi), que realiza um projeto de produção de artesanatos que são comercializados pelos próprios indígenas.

Algodão e sementes são alguns dos materiais utilizados pelos indígenas para a produção de redes, roupas, tapetes, bijuterias e adereços, que ressaltam a cultura e tradição das comunidades indígenas.


Camila Maria dos Santos (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Com o algodão doado por meio de uma parceria com a Embrapa, as mulheres indígenas usam um aparelho chamado ‘fuso’ para a fiação da lã, e com a linha pronta, a transformam em redes e roupas que são comercializadas.

Para dona Camila, o artesanato tem servido tanto para manter a tradição de sua comunidade, como também para ajudar nas despesas de sua família.

“Vim para a cidade já com 45 anos, então aprendi tudo com minha mãe. A vida na cidade não é fácil, então o dinheiro da venda dos artesanatos ajuda muito no dia a dia. Além disso, também é importante manter a tradição para os filhos e netos”, disse orgulhosa.

As peças são vendidas durante as apresentações do grupo de parixara, e também durante a feirinha semanal que ocorre aos domingos, a partir das 10h, na sede da Associação Kapoi, no bairro Araceli. Durante a feira, além dos artesanatos, os indígenas se reúnem para usar seus trajes típicos, dançar, e degustar a culinária tradicional, como a apimentada damurida e tomar o forte caxiri.

A associação conta com indígenas de várias etnias, como: Wapichana, Macuxi, Patamona, Saterê, Gavião e Guajajara, Xirixana, Arawake, entre outras.


Maria das Dores da Silva (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Maria das Dores da Silva, de 63 anos, da etnia Macuxi, conta que desde quando morava na comunidade da Lage, já fazia crochê, e hoje com o trabalho voltado para o artesanato, tem conseguido uma renda extra.

“Aprendi muito cedo a fazer crochê e estou usando o que já sei para fazer outras peças, pois a vida na cidade não é fácil”, contou.


Tuxaua Nelson Martins (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O tuxaua Nelson Martins, é o presidente da Associação Kapoi, explicou que o uso da língua materna também é estimulado dentro do grupo.

“É muito lindo ver nossos indígenas que moram aqui na cidade, cultivando dentro do nossos costume e ensinando a nossos jovens, nossas crianças principalmente na nossa língua, por meio das músicas e das histórias”, explicou.

Ainda de acordo com o tuxaua, o material utilizado para a produção das peças são doados por instituições parceiras, e todo o valor arrecadado é destinado diretamente para o indígena.

Por: Dina Vieira