O dinheiro das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que começou a ser liberado pela Caixa Econômica Federal a partir do dia 10 de março, pode ser a ajuda que faltava para o consumidor inadimplente saldar seus débitos em atraso e reconquistar o nome limpo. Em Roraima, de acordo com estimativa da Caixa Econômica Federal, os saques devem movimentar aproximadamente R$ 32 milhões. Ao todo, 537 mil trabalhadores têm direito ao benefício no Estado.
O Brasil encerrou 2016 com 58,3 milhões de pessoas com nome sujo, embora a inadimplência tenha desacelerado no ano passado, segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Em Roraima, apenas de janeiro a junho, conforme os últimos dados divulgados pelo SPC, 4,2 mil pessoas ficaram inadimplentes no ano passado.
O empresário Alex Damasceno é um deles. “2016 foi um ano muito difícil para muitos brasileiros. Várias pessoas que conheço perderam o emprego e eu fui uma delas. Eu me endividei, mas com ajuda da minha esposa consegui me reerguer e hoje montamos um pequeno negócio. Quando soube que o Governo Federal havia liberado o saque do FGTS, consultei imediatamente e vi que eu tinha saldo, apesar de não ser muito. Vou sacar em junho, mas o dinheiro todo servirá unicamente para quitar as dívidas prioritárias”, disse o empresário.
Ele não foi o único a pensar no dinheiro para limpar o nome. O estudante Mauro Almeida também possuía uma pequena quantia de saldo de FGTS, sacou e já pagou o primeiro boleto atrasado. “Eu trabalho desde os 18 anos. Hoje tenho 28 e imaginei que pudesse ter algum resquício do benefício. Quando consultei, comprovei que realmente tinha. Já saquei e paguei as parcelas que faltavam do meu videogame que estavam atrasadas. Ainda sobrou um pouquinho. Dá para comprar algo novo, quem sabe”, disse.
ACIRR – Segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Roraima (Acirr), Joaquim Santiago, a maioria dos trabalhadores que têm direito ao FGTS inavito não deve receber uma quantia expressiva. “São profissionais assalariados que recebiam pouco. A maioria nem sabia da existência desse dinheiro e deve sacar cerca de R$ 500,00. Pelo que analisamos por alto, muitos trabalhadores darão prioridade ao pagamento de algumas contas. O indicado é procurar a empresa a qual está devendo, negociar e quitar a dívida”, recomendou.
Notícias Relacionadas
Saques de contas inativas do FGTS já atingiram R$ 6,9 bilhões no país
Só na manhã do primeiro dia de saque, no dia 10 deste mês, 300 mil pessoas que aniversariam em janeiro e fevereiro já haviam feito 700 mil saques de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) até as 11h, totalizando R$ 300 milhões. Uma semana se passou e até ontem, 17, o montante de saque já somava R$ 6,9 bilhões, de acordo com a Caixa Econômica Federal.
Apesar da quantia, o economista Raimundo Keller afirmou que a economia do país só irá sofrer impacto relevante em meados de maio. “Estamos acompanhando diversos estudos de grandes instituições e fundações brasileiras e, de acordo com esses dados, a economia do Brasil só será impactada realmente de maio para junho. Apenas uma pequena parcela conseguiu sacar o saldo até o momento”, disse.
Segundo ele, menos de 8% do total de trabalhadores que têm direito ao saque são do Norte do país. “Várias pesquisas ainda estão sendo realizadas, mas é algo muito recente, já que temos apenas uma semana da liberação do saque. O que podemos observar até agora é que 60% dos trabalhadores destinarão o recurso ao pagamento de dívidas, de acordo com uma pesquisa realizada em um universo de 10 mil trabalhadores brasileiros de outras regiões. E 10% informaram que farão aquisição de bens de consumo, como eletrodomésticos, 9% a reforma da casa, 8% para outras situações, como aplicar o dinheiro na poupança, realizar um investimento, cuidar da saúde, 7,5% informaram que farão viagens e 5,5% vão gastar o dinheiro do FGTS com alimentos”, disse.
O economista orientou os trabalhadores a fazerem o uso correto do dinheiro. “A regra é clara: não se endividar mais. A maioria vai receber uma quantia pequena, mas quem tiver um saldo um pouco maior precisa ficar atento. Vamos supor: se o trabalhador consegue sacar R$ 1 mil e pensa em comprar uma passagem para viajar, com certeza ele vai precisar de mais dinheiro para gastar durante o passeio. Isso gera dívidas. A recomendação é pagar as dívidas e não comprar parcelado”.
